Em frente ao pet shop (Mãezinha)

Em frente ao pet shop, uma cadelinha faminta assistia dois filhotinhos chorando dentro de uma gaiola. Seus olhos iam de um lado para o outro. Às vezes, ameaçava se aproximar, mas via um par de sapatos à curta distância e logo se afastava. Medo de chute. Insistia.

Observava os dois cãezinhos, até que um deles começou a morder a gaiola. Se aproximou, ignorando quem entrava e quem saía e lambeu as grades, tentando alcançá-los. Quando um deles se achegou para receber carinho foi expulsa a vassouradas.

No dia seguinte, retornou. Assistia no cantinho, do lado de fora do pet shop, os dois filhotinhos chorando. Entrou na loja mais uma vez, encostou a língua na gaiola e um deles fechou os olhos enquanto recebia lambidas interrompidas por vassouradas.

Foi assim por quase duas semanas, até que um dia retornou pela manhã e os filhotinhos não estavam lá. Nem a fome que a levou pela primeira vez ao pet shop parecia incomodá-la mais. Se encolheu num canto e, mesmo quando uma chuva forte atravessou os limites da marquise da loja, continuou no mesmo lugar.

Toda molhada e quase arrastada pela enxurrada, só mirava a gaiola vazia. Não chegou a ganhar um nome, mas podemos chamá-la de Mãezinha. Continuou retornando ao pet shop, e cada vez mais magra. Aproximação e expulsão – sequência de todo dia.

Mais cãezinhos chegavam, choravam e partiam; e ela, que queria cuidar de todos eles, manteve a rotina por pelo menos mais três meses – com sol ou chuva. Um dia, o dono de um bar, vizinho do pet shop, estranhou sua ausência.

Fechou mais cedo e saiu para procurá-la. Não foi muito longe até encontrar Mãezinha dormindo agarrada a um cachorrinho encardido – os dois sem vida – ela e um bichinho de pelúcia que levou do pet shop.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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