Em novo livro, Donna Haraway propõe reflexão sobre nossa relação com outras espécies

No livro “Quando as espécies se encontram”, que está sendo lançado este mês no Brasil pela Ubu Editora, a filósofa e zoóloga estadunidense Donna Haraway propõe uma profunda reflexão sobre como nós, humanos, dividimos a Terra com seres não humanos, e a partir disso como moldamos uns aos outros.

Na obra a autora trata de conexões, interações e intra-ações entre espécies companheiras, numa relação natural-cultural. Com uma história marcada pela convivência com a deficiência física de seu pai, que fez das muletas e da cadeira de rodas suas companheiras de jornada, e com seus cães, a filósofa e zoóloga articula temas como biotecnologia e engenharia genética, domesticação e mercadorização de animais, indústria alimentícia e pandemias, natureza, cultura, feminismo e privilégios de raça e classe.

Além de cães e humanos, habitam suas páginas gatos ferais, ratos de laboratório, porquinhos-da-índia, moscas tsé-tsé, galos e galinhas, um jumento e até mesmo um dos grandes mamíferos mais raros do mundo, o vombate-de-nariz-peludo-do-norte. Todas essas criaturas, inclusive nós, em devir contínuo umas com as outras, afetando e sendo afetadas em um mundo cada vez mais conectado por meio da tecnologia.

Quando as espécies se encontram – no laboratório da ciência experimental, na pesquisa de campo ou no quintal de casa –, importa prestar atenção no conjunto de transformações que esse processo pode ativar, uma coconstrução para um mundo outro, em que se desfazem as práticas de dominação justificadas pela ficção de que o humano é o centro do cosmos. Afinal, ser um é sempre tornar-se com muitos, é devir-com.

“Trata-se aqui de compartilhamento, responsabilidade, ética e ontologia […]. . Este é um texto sobre paixão e consideração – sobre o amor que desfaz e refaz existências (e não sem dor e indigestão). O encontro entre espécies quebra fronteiras e classificações, repensa categorias: de taxonomia, raça, sexo, classe, nação. Eis a mensagem político-científico-filosófica desta profunda investigação em que criaturas da lama (e não do céu) tecem conexões poderosas, tanto quanto as habilidades do lodo de manter as coisas em contato e lubrificar passagens para a miríade multiespécie de seres viventes”, avalia Marilene Felinto no prefácio de “Quando as espécies se encontram”.

“Acho que aprendemos a ser mundanos ao enfrentarmos o corriqueiro em vez de generalizá-lo. Eu sou uma criatura da lama, não do céu. Sou uma bióloga que sempre achou edificantes as incríveis habilidades do lodo em manter as coisas em contato e lubrificar passagens para os seres vivos e suas partes”, frisa Donna Haraway no livro.

A autora nasceu em 1944, em Denver, nos Estados Unidos. Graduou-se em zoologia e filosofia na Colorado College e, em 1972, concluiu doutorado em biologia na Universidade Yale. Foi professora de história da ciência e estudos de mulheres na Universidade do Havaí, entre 1971 e 1974, e na Universidade Johns Hopkins, entre 1974 e 1980.

Em 1980, ingressou na Universidade da Califórnia em Santa Cruz, onde atualmente é professora emérita e atua nos departamentos de História da Consciência, Estudos Feministas, Antropologia e Estudos Ambientais. Recebeu, em 2000, o John Desmond Bernal Prize, a mais prestigiosa distinção concedida pela Society for Social Studies of Science, em reconhecimento a suas contribuições à história e à filosofia da ciência.

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Logo abaixo, você pode assistir a uma aula introdutória com Donna Haraway realizada pela Ubu Editora:

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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