Em período de seca, descarte de bovinos aumenta

Animais são mortos ainda mais cedo do que já seriam porque não é considerado vantajoso mantê-los vivos (Foto: Animal Equality)

Sabemos que o status de bovinos como bens móveis em nossa sociedade faz com que também sejam classificados como produtos ou meio de obtenção de produtos. Afinal, se não fossem, não estariam em tantos pratos na hora do almoço e do jantar de tantas pessoas ao redor do mundo. Sem dúvida, essa concepção faz com que o tratamento dado a eles envolva um diverso número de ações moralmente questionáveis.

Em período de seca, por exemplo, cresce o descarte de bovinos. Ou seja, animais são mortos ainda mais cedo do que já seriam porque não é considerado vantajoso mantê-los vivos por mais tempo por causa da quantidade de recursos que demandam. Isso ocorre no Brasil e em muitos outros países dentro do que se classifica como “abate estratégico”.

Mas quais são os critérios para decidir quais animais morrerão em época de estiagem? Bois que dizem ter “mau temperamento” costumam ser descartados nesse período, assim como “vacas secas”, também conhecidas como “vacas sem bezerro”. Na ausência de um filhote que possa gerar renda, mantê-la viva na pecuária é considerado oneroso.

“Vacas velhas”, que não significa exatamente que são velhas, mas sim que são vistas dessa forma pela indústria por não produzirem muito leite, também são descartadas em período de seca. O mesmo ocorre com vacas com dentes ruins, classificadas como de fraco potencial reprodutivo, o que as coloca em situação de descarte prioritário.

Outros fatores de descarte

Vacas magras ou de procriação tardia também são alvos fáceis nessa época de descarte, que tem aumentado ano a ano, e ampliado a matança precoce de animais, já que os períodos de seca estão se tornado cada vez mais longos e intensos em decorrência, por exemplo, de fatores climáticos.

Há mais fatores que favorecem o descarte de vacas leiteiras em tempos de seca – como úberes classificados como “inferiores” e a qualidade dos pés. Quando o animal apresenta claudicação ou pré-disposição a tê-la também torna-se alvo de descarte. O formato dos pés ainda pode favorecer isso.

O “abate estratégico” praticado nesse período visa reduzir principalmente gastos com a alimentação desses animais. A necessidade de um tratamento que esteja acima do “custo-benefício” também torna um animal um candidato ao abate mais precoce.

Além disso, mesmo fora de períodos de seca os animais com as características já citadas tendem a ser descartados. A diferença é que a estiagem pode acelerar ainda mais isso. Ou seja, o quanto um animal vive depende dos benefícios que ele proporcionará vivo e/ou morto.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *