Filme de terror coloca humanos no lugar de animais criados para consumo

Disponível na Amazon Prime Video, o filme “The Farm”, de Hans Stjernswärd, que na versão em português recebeu o título “Os Canibais”, conta a história de um jovem casal que, durante a viagem de volta para casa, decide procurar um lugar para descansar.

Antes, passam em uma lanchonete, onde pedem hambúrgueres. Na cena, o preparo da carne é destacado – a textura, a fumaça, a não uniformidade. Mais tarde, quando encontram uma pousada para passar a noite, são recepcionados pelo gerente, que Nora vê com estranhamento.

Ela e Alec amanhecem longe da cama, presos em gaiolas, onde logo percebem que não são os únicos. As condições às quais são submetidos são as dos animais criados para consumo.

Enquanto os homens são confinados por causa de suas carnes, as mulheres são exploradas como “leiteiras” e descartadas quando deixam de ser úteis para este fim – o que significa que não escapam ao que ocorre aos homens.

Em uma das cenas, uma jovem diz que já não é capaz de gerar vidas, logo não pode mais entrar em estado de lactação, essencial à produção leiteira.

A exaustão das mulheres incita reflexão sobre a exaustão dos animais explorados diariamente pelo sistema de produção alimentícia.

Há uma referência também ao descarte de bezerros no tratamento dado aos bebês que não podem consumir o leite que será destinado aos consumidores/compradores – um é abatido com instrumento contundente e jogado no lixo.

Na história, a carne e o leite de origem humana são oferecidos em banquetes e outros eventos – o que é confirmado a partir da cena em que o personagem de Ken Volok, que comanda o lugar, recebe uma reclamação de um cliente que “encontrou um dente na comida”.

A cena possivelmente faz referência à realidade do consumo de alimentos de origem animal, quando os consumidores incomodam-se, por exemplo, em encontrar algo que permita identificação com o animal de quem foi extraída determinada parte – como no caso de um mamilo em um pedaço de bacon, tornando inevitável a associação com um porco, com um animal, com uma vida.

A música, constante no cenário de trânsito na fazenda, gera desconforto e apreensão, e liga as realidades de violência/não violência e de bucólico/não bucólico em relação a uma ideia do que seja uma fazenda dedicada ao que é chamado de “produção animal”.

Esse sistema no filme tem sua realização cotidiana garantida por funcionários com máscaras, e de animais que costumam estar na situação daquelas pessoas reduzidas a produtos e meios para a obtenção de produtos.

O que pode gerar incômodo em relação à realidade das vítimas humanas não é diferente da realidade de bovinos, suínos, galináceos e outros animais.

Ou seja, os humanos explorados em “The Farm”, filme que tem menos de 90 minutos de duração, são mantidos confinados para gerarem produtos, por meio de seus corpos.

Enfim, há uma finalidade econômica nessa exploração, análoga à realidade do nosso sistema alimentar que não é visto pela maioria com estranhamento, embora seja baseado na subjugação e morte de animais.

Saiba Mais

Nora e Alec são interpretados por Nora Yessayan e Alec Gaylord.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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