Frangos: 50 bilhões mortos por ano para consumo

Para além da simples capacidade de sofrer e ter experiências emocionais, galináceos reconhecem intervalos de tempo (Acervo: Animal Equality)

É difícil encontrar quem nunca viu um frango a caminho do matadouro. Mesmo que você jamais tenha convivido com um, provavelmente testemunhou uma porção deles na carroceria de um caminhão confinados em pequenas caixas com aberturas para entrada de ar – evitando que morram a caminho do abate, “o que poderia prejudicar a qualidade da carne”.

Mas o que muita gente não sabe é que a quantidade desses animais mortos por ano no mundo todo equivale a mais de seis vezes a população mundial humana em quantidade de indivíduos. De acordo com dados da organização United Poultry Concerns (UPC), que desenvolve estudos e pesquisas sobre a realidade dos galináceos, até 50 bilhões acabam no prato de alguém todos os anos. Surpreendente, não?

E esta não é a realidade somente dos frangos, mas também das galinhas poedeiras, que são abatidas assim que o declínio na produção de ovos passa a ser considerado desinteressante para o mercado. Ademais, também podem ser abatidas por outros fatores – como custo considerado elevado em decorrência do desenvolvimento de doenças que sugiram nesse contexto de produção; ou mesmo comportamento qualificado como “excessivamente indisciplinado”.

Para além da simples capacidade de sofrer e ter experiências emocionais, galináceos reconhecem intervalos de tempo, utilizam memórias pessoais de eventos passados e exercem autocontrole que permite antecipar ações futuras, segundo o artigo “Thinking Chickens”, do The Someone Project, desenvolvido pelo Farm Sanctuary, de Nova York, e coordenado pela neurocientista Lori Marino e pela pesquisadora do ramo de etologia Christina M. Calvin.

Resposta emocional de frangos e galinhas

“Embora os subestimamos, frangos e galinhas respondem emocionalmente até mesmo a eventos que estão prestes a vivenciar. “Por exemplo, quando antecipam um evento negativo, neutro ou positivo eles correspondem com demonstração de preocupação, desinteresse ou alívio. Ao aguardar um esguicho de uma pistola d’água (um evento negativo), mexem mais a cabeça e o corpo, um comportamento de estímulo correlacionado com a ansiedade”, informam.

Isso acontece também porque esses animais possuem capacidades que se correlacionam com a memória episódica – e isso se torna mais evidente ainda quando vivem por mais tempo. “Estudos de autocontrole e autoconsciência sobre galináceos ajudam a fornecer uma sensação de quem são para si mesmos.”

Além da variedade de emoções que frangos e galinhas experimentam, eles também ‘captam’ sentimentos um do outro. Considerado uma forma simples de empatia, o contágio emocional ocorre quando um indivíduo experimenta uma emoção ao testemunhar outro indivíduo experimentando a mesma emoção.

Lori Marino e Christina M. Calvin enfatizam que estas conclusões apenas arranham a superfície sobre quem, de fato, são essas aves – indivíduos com capacidades particulares de manter hábitos, preferências, comportamentos complexos e relações sociais; mas que infelizmente ainda preferimos matar aos bilhões por ano, e muitos antes de reconhecerem ou desenvolverem muitas de suas capacidades.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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