Frangos e galinhas sofrem muito mais do que imaginamos

(Fotos: Sinergia Animal)

Dos animais criados com fins de consumo, frangos e galinhas são os que mais sofrem com o calor. Além de submetidos ao confinamento, que representa a realidade de dois terços dos animais explorados pela pecuária global, o sofrimento dessas aves é intensificado pela sensibilidade às altas temperaturas.

Em relação aos mamíferos, frangos e galinhas levam desvantagem na troca de calor, ou seja, capacidade de regular a temperatura corporal. Para se ter uma ideia, mais de 28 graus Celsius já deixa esses animais desconfortáveis e promove mudanças em seu comportamento – o que pode ter início a partir de uma manifestação de inquietação. Um pouquinho mais e ficam ofegantes e têm a velocidade da respiração alterada em até dez vezes – uma ação desesperada de tentativa de redução de temperatura corporal por meio do arquejo.

Considerando que a maior parte das dezenas de bilhões de frangos e galinhas explorados para consumo por ano é mantida confinada até o momento do abate (claro, isso também ocorre com as poedeiras), imagine como isso pode favorecer o estresse térmico.

Os frangos mais consumidos no planeta, assim como as galinhas que produzem os ovos mais consumidos, já são submetidos a uma realidade que inibe comportamentos naturais. Afinal, não há como concluir que pode ser boa a experiência de viver em gaiolas, em situação de superpopulação, e com a finalidade de fornecer alimento ou tornar-se alimento para alguém no menor prazo possível.

Mais de um milhão de galinhas mortas

Agora imagine a experiência do confinamento, que coíbe qualquer tipo de circulação e movimentação saudável, aliada ao fato de que em determinadas épocas do ano você pode ser obrigado a ter de resistir a um calor com o qual você não tem boas condições biológicas de lidar.

Em 2020, por exemplo, durante um período de calor intenso, mais de um milhão de galinhas poedeiras morreram na região de Bastos, conhecida como a maior região produtora de ovos do estado de São Paulo. A realidade sofrida das aves exploradas com essa finalidade já foi exposta a partir dessa localidade pela organização Sinergia Animal, e por meio de fotos de vídeos.

Não é de hoje que destaca-se que a morte por hipertermia de frangos e galinhas pode ser evitada por meio da tecnologia, climatização, assim como ventiladores, telas e “banhos com eucalipto”.

Mas se ainda há muitos animais sofrendo em decorrência de estresse térmico é porque a negligência é justificada economicamente, já que tais animais são vistos como “bens móveis de baixo custo”, e que por serem de “consumo” também não recebem o devido amparo da lei. Afinal, na prática, o entendimento é de que nascem para serem explorados e mortos em nosso benefício.

Apreço humano por carne de frango e ovos

Além disso, dependendo da onda de calor, há sistemas que não garantem que esses animais não morrerão ainda mais cedo nem sofrerão em consequência de temperaturas muito elevadas.

Outro agravante também é que dependendo do sistema de energia utilizado, uma queda ocasional pode resultar na morte de um número muito elevado de aves, assim como situações de risco, que podem envolver até mesmo incêndios – ou outros tipos de “falhas técnicas”.

Não há como ignorar que essa realidade é mais uma consequência do apreço humano por carne de frango e ovos. Afinal, se hoje dezenas de bilhões de galináceos são explorados e mortos para consumo, isso não é resultado do acaso.

E quanto maior a demanda, a tendência é de que haja mais privação e menos consideração em relação ao bem-estar dessas criaturas, pouco vistas realmente como animais sencientes e mais como produtos ou fontes de produtos.

Imagine a experiência de sofrer um desequilíbrio metabólico em consequência do calor e ser levado a um estado de debilidade que resulte em sua morte, e você perceber que não tem condições de fazer nada a respeito porque está confinado, preso, assim como muitos outros iguais a você, em um pequeno espaço que existe para reduzi-lo a produto ou fonte de produto. É terrível ser uma galinha ou frango criado em nosso benefício.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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