Realidade da exploração animal pouco interessa à grande mídia

O único momento em que a grande mídia volta sua atenção para a realidade da indústria da exploração animal é quando surge algum escândalo (Reprodução/Getty/Jo-Anne McArthur/We Animals)

Não é raro alguém criticar publicações que denunciam a exploração, violência e sofrimento por trás da produção e do consumo de alimentos de origem animal como carnes, ovos e laticínios; dizendo que se as denúncias envolvendo esse mercado são realmente verdadeiras, por que pouca gente sabe disso? Por que não sai na TV, na grande mídia?

Bom, acredito que seja válido considerarmos que além da naturalização da exploração animal, o que já se pressupõe uma forma de violência, a grande mídia também é patrocinada por grandes empresas que lucram com a exploração direta de animais.

Sendo assim, veicular denúncias envolvendo a realidade dos animais criados para consumo pode significar a perda de grandes anunciantes. Sem dúvida, existe a possibilidade de se perder até mesmo contratos com os maiores anunciantes. Afinal, estamos falando de um mercado que movimenta muito dinheiro.

Ir contra a indústria da exploração animal, ou seja, de alimentos e produtos que não existiriam sem que animais fossem condicionados, usados como meios para um fim e então mortos, é um trabalho de resistência.

Isso significa lutar contra toda uma propaganda que começou a ser desenvolvida massivamente após a Segunda Revolução Industrial. Além disso, enquanto se publica uma pesquisa honesta criticando o que existe de errado nesse meio, podem surgir até dez sob encomenda tentando desqualificar esse trabalho – o que pode deixar muita gente confusa.

A grande mídia volta a sua atenção para a realidade da exploração animal apenas quando surge algo “não naturalizado” que é considerado um escândalo. Então eles são obrigados a veicularem algo a respeito. Do contrário, perdem credibilidade. Porém, isso também não significa que estejam apenas defendendo os interesses da população.

Para se ter uma ideia do potencial de publicidade e propaganda desse mercado, só em um semestre a JBS e a BRF investiram sozinhas 1,2 bilhão de reais em publicidade veiculada no Brasil. Sendo assim, o potencial de dissimulação da realidade a respeito dos produtos de origem animal é maior do que o da verdade.

Cada um tem o direito de acreditar no que quiser, e se posicionar como preferir, claro. Mas há muitas canais de informação, e ninguém depende da grande mídia hoje para se informar sobre esse assunto. Enfim, talvez seja o momento de refletirmos sobre esse sistema mantido às custas da exploração de seres sencientes incapazes de reivindicarem o direito à vida.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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