Guy Endore, importante nome da literatura de horror, era vegetariano

“Mas quando ele chegou, a primeira coisa que o atingiu foi o cheiro de carne assada. Maldita seja a carne” (Imagens: Getty/Reprodução)

O escritor estadunidense Guy Endore, importante nome da literatura gótica e de horror do século 20, é mais conhecido pelo clássico “O Lobisomem de Paris”, publicado em 1933 e que chegou a ser considerado o “Drácula” dos lobisomens.

A obra conta a história de um estadunidense que desenvolve uma pesquisa de doutorado em Paris. Durante a estadia, ele encontra um manuscrito recuperado por alguns catadores de lixo.

São 34 folhas escritas em francês sobre uma defesa não solicitada pelo sargento Bertrand Caillet em uma corte marcial em 1871. Bertrand, que torna-se um pária, nasceu do estupro cometido pelo Padre Pitamond contra uma adolescente.

Na juventude, ele começa a ter desejos sexuais estranhos e sádicos que manifestam-se em seus sonhos. Quando dorme, ele se vê como um lobo e tudo parece tão real que Caillet começa a entrar em conflito consigo mesmo, viajando pela França pré-revolucionária na tentativa de acalmar seus próprios instintos.

Endore, que era vegetariano, transmitiu um pouco de pessoalidade ao personagem, como pode ser percebido na página 13 do livro “O Lobisomem de Paris”:

“Mas quando ele chegou, a primeira coisa que o atingiu foi o cheiro de carne assada. Maldita seja a carne. Ele livrou-se dela a lançando dentro de uma fossa. Sim, exatamente isso. Com a carne no fundo da fossa, todos os seus pensamentos sobre ela foram afastados. Fora de alcance, fora da mente.”

Autor da biografia “The Many Lives of Guy Endore”, Chris Mikul conta que Endore era uma massa de contradições, principalmente levando em conta o quanto o escritor de horror era um sujeito sensível e dado a sutilezas, o que contrastava com suas obras.

Vegetarianismo na juventude 

“Seu amigo Alexander Woollcott, famoso crítico do New Yorker, o chamava de ‘Weremouse’. Endore tornou-se vegetariano nos tempos de estudante. Também era praticante de ioga e aparentava ser muito mais jovem do que realmente era”, declarou Mikul.

Todos os dias pela manhã, ele levantava e meditava por 30 minutos. Mais tarde, repetia o mesmo exercício. Embora judeu, guardava uma Bíblia junto à cama e frequentemente a lia, e tinha grande interesse em misticismo, principalmente teosofia, segundo o biógrafo.

Outro estudioso da vida de Guy Endore é o professor Robert McKay, da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, autor do trabalho “The Were-Wolf Hunger of Capital”.

“’O Lobisomem de Paris’” é um romance sensacional sobre licantropia que tem como cenário a Comuna de 1871 [ou Comuna de Paris, primeiro governo operário da história], escrita e publicada […] pelo vegetariano Guy Endore. O foco do romance no consumo levanta questões pertinentes sobre as políticas da alimentação”, comenta McKay.

“O Lobisomem de Paris” é uma obra que, para além da literatura gótica e de horror, leva o leitor a refletir sobre as implicações do consumo de carne, tanto para os seres humanos quanto para os animais.

Saiba Mais

“O Lobisomem de Paris” inspirou o surgimento de muitos filmes, entre os quais “O Lobisomem de Londres”, de 1935; “O Lobisomem”, de 1941; “A Maldição do Lobisomem”, de 1961, considerado um dos grandes clássicos do cinema de horror; e “A Lenda do Lobisomem”, de 1975.

Referência

Endore, Guy. The Werewolf of Paris. Pocket Books (1993).

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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