Há 35 anos, animais eram abandonados após desastre de Chernobyl

“Os cães de Chernobyl foram expostos à raiva por causa de predadores selvagens” (Foto: Sean Gallup/Getty Images)

No dia 26 de abril de 1986, a explosão do reator da Unidade 4, que espalhou materiais radioativos no meio ambiente, mudou a vida de milhares de animais que viviam em um raio de 30 quilômetros da Usina Nuclear de Chernobyl.

Após a tragédia, a União Soviética comandou uma evacuação de mais de 120 mil pessoas de Pripyat, no norte da Ucrânia, e das vilas vizinhas. Ninguém pôde levar nada, nem seus companheiros animais, abandonados e depois mortos mesmo com a resistência dos moradores.

No livro “Chernobyl Prayer: A Chronicle of the Future”, de 2016, a autora Svetlana Alexievich relata que os cães latiam e uivavam tentando entrar nos ônibus que partiam de Pripyat, mas os soldados soviéticos os chutavam.

“Eles correram atrás dos ônibus por muito tempo. Famílias desoladas fixaram bilhetes em suas portas: ‘Não mate nossa Zhulka. Ela é uma boa cadela.’” Como havia muitos cães, dispersos por toda Pripyat e por outras aldeias que faziam parte da zona de exclusão, uma parcela significativa sobreviveu, inclusive migrando para as florestas, onde desenvolveu capacidade de sobrevivência.

Com o tempo, os cães tiveram seus descendentes, e são esses animais que hoje povoam Chernobyl e a zona de exclusão. Há alguns anos, um homem foi contratado para capturá-los e matá-los, sob a alegação de que não havia recursos para cuidar dos animais. Ele se recusou a fazer o serviço.

Organização ajuda animais na zona de exclusão 

Quem trabalha na localidade já está acostumado com a presença canina e reserva uma parte de sua refeição para alimentá-los. A estimativa da organização Clean Futures Fund, dos Estados Unidos, que ajuda cidades afetadas por acidentes industriais, é de que há mais de 250 cães vivendo em torno da usina nuclear, outros mais de 225 cães na Cidade de Chernobyl e centenas de cães nos postos de controle de segurança e em outras localidades da zona de exclusão.

“Os cães de Chernobyl foram expostos à raiva por causa de predadores selvagens”, informa a Clean Futures. Em Chernobyl, a expectativa de vida dos cães é bastante reduzida por causa da exposição à radiação. A maioria tem no máximo quatro ou cinco anos e poucos ultrapassam os seis anos.

Apesar de tudo, os cães que moram perto dos postos de controle têm cabanas feitas pelos guardas de Chernobyl. Com o tempo, eles aprenderam também que a presença humana pode significar sempre uma chance de ganhar comida. Prova disso é que vários podem ser vistos na entrada do Café Desyatka, onde esperam receber dos clientes um pouco de borscht, uma tradicional sopa de beterraba.

O trabalho da Clean Futures Fund também ajuda a levar alento aos animais. A organização montou clínicas na localidade para oferecer atendimento veterinário, incluindo um programa de vacinação e castração.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *