Há gentileza na exploração animal?

Foto: AFI

Somos educamos para a crença no supremacismo humano, portanto, entendemos que a gentileza é algo que, se julgamos importante ou conveniente, estendemos aos outro, que consideramos digno, como nós ou semelhante a nós. Mas será que deveria ser assim?

Imagine um mundo em que a gentileza foge às determinações que operam não apenas a relativização dessa gentileza em relação aos humanos julgados, por viés negativo, como diferentes (e que por isso sofrem com pré-conceitos e preconceitos), como se a diferença não devesse ser respeitada ou não devesse ser um direito, mas também desconsidera a validação de uma hierarquia antropocêntrica de espécies.

Não refiro-me a uma ideia de utopia, ou de todos os humanos do mundo compartilharem de uma mesma gentileza que tenha igual ressonância, mas de um esforço que podemos fazer para não vermos criaturas vulneráveis como indignas de nossa gentileza, que acredito ser um importante passo para uma expansão de uma ação que antagoniza o reducionismo que relativiza e coíbe a valorização da vida e sua comunhão em oposição às permissividades do supremacismo.

Quando falo em ser gentil, volto-me à busca por maneiras de viver que façam dessa gentileza não um ato de transmitir um olhar terno para um animal ou de afagá-lo, de fazer algo que não se desconecte do momento (logo não tem efeito mutável), mas de adotar maneiras concretas de transformação, como o antagonismo ao uso de animais para qualquer finalidade associável à exploração; porque gentileza, embora tenha uma plasticidade imanente, não deve ser sobre superficialidades momentâneas, e sim sobre transformações que levamos de nós (a partir do que também não somos) para os outros, e trazemos dos outros para nós.

Porque acariciar um animal ou alegar algum tipo de simpatia por ele, porém não fazer nada alcançável para não prejudicar sua vida, se é isso que fazemos, não é uma real gentileza, mas consequência de uma dissociação por conveniência, e nem sempre a reconhecemos como representação de uma realidade falseada. Não é sobre sermos falsos ou não, e sim sobre a importância de enxergar o que existe de contraditório em nossas ações e tentarmos mudar pelo reconhecimento transicional do que não fazemos, porém podemos.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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