É comum alguém dizer que muito do que é dito sobre os animais, quando o objetivo é defendê-los da exploração, é sentimentalismo. Não estou interessado em contestar a acusação de sentimentalismo. Sugiro uma reflexão em que admito como verdade a acusação.
O que há de errado no predomínio do sentimento, que é significação do sentimentalismo? Quero dizer, se uma pessoa se depara com o sofrimento de um animal, esse sofrimento é evitável, e ela decide não querer mais contribuir com isso pela emergência de um sentimento de reprovação, há nisso algo a ser execrado?
Sentimentalismo costuma ser referenciado de forma pejorativa como um tipo de “afetação”, em que substituímos a razão ou a verdade por um recorte tolo da vontade motivada pelo impacto da impressão que é desproporcional à ação.
O sentimentalismo então é reduzido à ideia do “exagero”, da “exacerbação do sentimento” – quando não uma oposição, um afastamento da razão.
Essa é uma concepção equivocada, porque o sentimentalismo não se opõe à razão, já que pode ser motivado pela razão – e por uma “percepção outra” da razão que seja mais racional do que a de quem se refere ao sentimentalismo de maneira depreciativa.
A contundência do sentimentalismo pode ser exemplificada pela reação à situação de um animal que será morto para consumo – a partir do reconhecimento de que sua realidade é uma não necessidade.
Por exemplo, na impossibilidade da prevalência da razão para demovê-lo da situação, uma pessoa pode ser impactada pelo predomínio de um sentimento provocado pela ausência de razão nessa prática violenta.
O sentimentalismo então manifesta-se como razão de uma impotência, como evidenciação da verdade rejeitada, de uma desconsideração supervalorizada.
Afinal, se é sobre a realidade dos animais explorados, é sobre aquilo que se vê sem que muitos outros vejam, ou que veem sem ceder em reconhecê-lo. E porque negam razão a essa razão.
Preferem reduzi-la a uma ideia de sentimentalismo inconveniente. Enfim, o sentimentalismo também é sobre uma percepção e reação honesta à realidade, que podem ser expressadas pelo predomínio do sentimento que ampara-se no impacto da razão.