Há tantos pacifistas que alimentam-se de violência

Pintura: Melani Vera

Conversavam sobre matança de animais para consumo enquanto passavam em frente a enormes barracões de criação de frangos perto da BR-376. Caminhões deixavam a localidade cheios de aves nas carrocerias.

“Pode citar-me apenas uma guerra que tenha custado a vida de dezenas de bilhões? Imagine em um ano. Só a pecuária, financiada pela vontade humana, consegue obliterar esse tanto de vidas, e prepara-se para mais nos próximos anos. O que pensar então das décadas que virão?”

“E há tantos pacifistas que alimentam-se de animais. Conheci inúmeros que mastigam pedaços de criaturas falecidas. Se diz que há também violência no ovo ou no leite batem o pé. Então peço que levem-me às galinhas de granjas com 15 anos ou fazendas onde posso encontrar rebanhos de vacas com a mesma idade. Há algo tão objetivo quanto simbólico nisso, mas como resistem à reconsideração porque não são sobre a importância humana.”

“Dúvida não tenho única que a maior guerra – e unilateral – da humanidade é contra animais que não podem vencê-la, como já observou Reclus, mas quantos a reconheceriam assim? Condicionamos, privamos, exploramos e comemos. Animais são prisioneiros que matamos quando queremos. Que há de pacífico na execução que envolve pistola, choque, pendurar de ponta-cabeça pelos pés e degolar para depois esfolar? A mim, terrível beligerância.”

“E os animais que findam no matadouro, em desvantagem, não diria que são vencidos pela vulnerabilidade, mas por nossa malícia e dissimulação da maldade. Nas guerras entre homens há coisas que dizem não ser toleradas, só que quando é sobre lucro e apetite, o que é limite? Morrer sem sofrer é o que gostamos de dizer quando quem debate-se não somos nós.”

“A crueldade não está apenas na forma, mas também no ato. Dizia meu vô que a guerra mais duradoura é aquela não reconhecida e em que muitos não veem vítimas como vítimas, e porque acreditam que beneficiem-se dos resultados dessa violência. E o que dizer sobre a fortuna que alguns acumulam com tanto derramamento de sangue nos matadouros e sem precisar ter contato com sequer uma gota? Graças aos consumidores, que são financiadores. E evoca-me à guerra onde morrem primeiro os miseráveis.”

 

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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