Impacto da gripe aviária ou suína deve ser somente sobre nós?

Foto: Aitor Garmendia/Tras Los Muros

É comum as pessoas não refletirem sobre o que representa uma gripe aviária ou suína para os animais não humanos. Apenas nos preocupamos com a possibilidade de sermos contaminados. Por que não ponderamos que nossos hábitos são indissociáveis desse problema que antes de ser nocivo para nós é nocivo para outros animais?

Quero dizer, é o contexto de criação de animais para consumo que favorece esse cenário. Se confinamos animais para comê-los ou utilizá-los e há uma contaminação no ambiente, os primeiros que sentirão o impacto são esses animais, e que serão mortos como “medida de controle sanitário”.

E como isso foi causado? Não foi pelo interesse em submetê-los para que pudéssemos consumi-los? Uma gripe aviária ou suína, assim como outras zoonoses associadas ao consumo de animais, não surge em um contexto em que eles NÃO estão sendo submetidos aos nossos interesses.

Até porque são doenças potencializadas, que passam por transformações em proporção ao nosso interesse em condicioná-los e consumi-los. Considere agora doenças que surgiram a partir do massivo/industrial domínio humano sobre outros animais para fins de uso/consumo.

Você pode achar que não é capaz de citar algumas, mas é sim, porque as informações que recebemos sobre doenças no contexto da pecuária (reforçando discursos hegemônicos ou “oficiais”), e sendo apontadas como problemas (que são de ordem sequencial), tem origem depreensível, porque é esperado que isso ocorra nesse sistema, ainda que esse sistema tente fazer com que acreditemos no oposto. Ou seja, que trata-se de uma casualidade, não causalidade.

Ademais, esses “problemas” são comumente reconhecidos como fenômenos modernos, mas que já não podem ser classificados como fenômenos – e porque não podem ser desconectados de uma realidade de trivialização da instrumentalização não humana.

Sabemos que as zoonoses mais preocupantes da atualidade resultam da grave intervenção humana, mesmo quando não é sobre criação de animais domésticos. No entanto, se o que está em nosso refrigerador é sobre animais domésticos e suas misérias, por que ignorar nossa responsabilidade sobre males que já são presentes e podem tornar-se muito mais?

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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