Ex-funcionário relata sofrimento das galinhas em granja de ovos

“Como manter a calma de um bicho que fica preso o dia todo pra botar ovo?”(Foto: HSI)

Tiago Ambrósio Ferreira, 27 anos, trabalhou por quase dois anos no setor de produção de uma granja de ovos na região de Maringá (PR). “Quando entrei lá, achei que seria um trabalho normal. Galinha bota ovo, alguém recolhe e esse produto é vendido para alguém”, diz.

No entanto, a experiência mostrou que a percepção de Tiago sobre a produção de ovos é a mesma que os consumidores que desconhecem a realidade desse meio costumam ter.

“A única coisa que estranhei no começo foi o cheiro que é muito forte por causa da ração e do estado de confinamento. Se você amontoa galinhas em um lugar, esse lugar fica com cheiro ruim; um fedor mesmo, independente da limpeza, da higienização”, informa.

Ele também percebeu que galinha se estressa pela falta de liberdade e por ter de conviver entre muitas aves. “Só comecei a perceber essas coisas trabalhando lá. Não imaginava que galinha ficasse estressada. Levei algumas bicadas na granja por causa disso. Tem gente que se irrita e na hora da raiva chega a bater nas galinhas”, relata.

Realidade da queda na produção de ovos

E acrescenta: “Como manter a calma de um bicho que fica preso o dia todo pra botar ovo? A gente tentava, mas dizer que funcionava…Onde trabalhei o que a gente tinha de fazer era evitar que as galinhas entrassem na ‘zona de estresse extremo’. Isso acontece quando a galinha já não quer mais comer. E galinha que não bota vai pra panela.”

A queda na produção de ovos é uma das razões pelas quais as galinhas poedeiras são abatidas – e mais cedo ou mais tarde isso ocorre com todas que produzem a maior parte dos ovos consumidos no mundo todo.

Afinal, elas também são reduzidas à carne, já que a indústria não vê sentido em manter vivo um animal que não pode mais proporcionar retorno financeiro como poedeira.

Na granja onde Tiago trabalhava havia um calendário de descarte de galinhas, e incluía todas aquelas que já não atingiam a meta mínima de produção mensal.

“Galinha de granja não chega a envelhecer”

“Muita gente acha que galinha bota ovo pra sempre, mas galinha de granja não chega a envelhecer. Ela morre antes, porque uma hora a produção cai. Testemunhei várias vezes galinhas sendo recolhidas para abate e substituídas”, garante.

“Galinhas que ficam doentes também podem ser descartadas bem cedo. Ou porque dizem que podem contaminar as outras ou porque o investimento na saúde do animal é considerado caro e sai mais barato o descarte.”

Outra prática que Tiago Ambrósio Ferreira define como crueldade é a muda forçada – em que galinhas passam por um processo que visa a regressão do aparelho reprodutor. Isso é feito deixando galinhas em jejum alimentar e hídrico que gera um desequilíbrio hormonal.

O objetivo é estimular a produção de ovos em galinhas de baixa produtividade. O preço dessa prática que gera estresse crônico e grande sofrimento pode ser uma morte dolorosa para o animal.

Saiba Mais

Normalmente uma galinha pode viver por pelo menos dez anos, mas na indústria de ovos a expectativa de vida é de um ano a um ano e meio.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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