Indústria de ovos mata mais de 233 mil pintinhos por dia no Brasil

Trituração de pintinhos ainda é prática comum no Brasil (Foto: Getty)

Consumir ovos pode parecer um hábito inofensivo. Afinal, é comum as pessoas imaginarem apenas uma galinha botando ovos e alguém os recolhendo. No entanto, isso está longe de ser tão simples e pacífico.

Além das galinhas poedeiras serem condicionadas a botarem ovos em conformidade ao padrão industrial, da maioria viver em gaiolas (onde são impedidas de manifestarem comportamentos naturais), de terem seus ciclos controlados e serem descartadas com a queda na produção, isso quando não desenvolvem algum problema de saúde classificado como “justificável para descarte”, os pintinhos machos, “subprodutos” dessa indústria, são tratados como um problema.

Por serem vistos dessa forma, a importância da preservação de suas vidas, de não impor sofrimento a recém-nascidos de outra espécie, é ignorada para evitar “algum tipo de prejuízo ou custo adicional”.

É por isso que, com a demanda de ovos, responsável por impulsionar uma produção que em um período de 90 dias em 2021 chegou a 972,94 milhões de dúzias no Brasil, conforme dados obtidos a partir do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um dos “colaterais” desse sistema é a matança de pintinhos machos.

Indesejáveis por não serem úteis à indústria de ovos nem a de carne por não terem a chamada “genética favorável”, esses animais são mortos logo após o nascimento. Segundo dados consultados junto à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), estima-se que por dia são abatidos mais de 233,3 mil pintinhos no Brasil. Por mês, são cerca de sete milhões e até 84 milhões por ano.

A prática mais comum no país ainda é a maceração mecânica, também conhecida como trituração. Os pintinhos são submetidos a esse tipo de violência e execução logo após a identificação do sexo.

No Brasil, até hoje a legislação não impede a realização dessa matança. Há cinco anos, um projeto de lei foi apresentado no Congresso com a finalidade de impedir tal crueldade. No entanto, não recebeu a devida atenção dos parlamentares e foi arquivado em 2019.

“Os animais sofrem antes de morrer”

No PL 4697/2016, o deputado federal Rômulo Gouveia (PSD-PB) sugeriu não apenas a proibição da trituração de pintinhos, mas também de morte por sufocamento ou qualquer meio cruel de abate.

“Os animais sofrem antes de morrer. No triturador, alguns pintinhos sobrevivem gravemente feridos. Na morte por asfixia, ocorre a agonia da busca por ar”, destacou Gouveia. “A busca por elevados índices de desempenho fez com que se impusesse o descarte dos machos.”

Atualmente está tramitando na Câmara o PL 3628/2019, do deputado Célio Studart (PV-CE), que visa estabelecer o fim do abate de pintinhos em estabelecimentos avícolas por meio de trituração, sufocamento e eletrocussão. No entanto, o PL não tramita de forma independente, já que foi apensado a outra proposta.

É importante não ignorar também que consumidores que optam por comprar ovos de galinhas supostamente criadas “livres” também financiam a prática, já que as aves, por padrão, vêm de incubatórios onde pintinhos machos são descartados, já que o cruel abate é universalizado.

Clique aqui para opinar sobre o PL 3628/2019, de Célio Studart.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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