Lamentar pelo sofrimento dos animais enquanto alimenta-se deles não é coerente

Foto: Gregory Fenile

Quando algum caso de crueldade contra animais ganha bastante visibilidade na mídia, é bem comum até mesmo quem alimenta-se deles lamentar por tal sofrimento. Atualmente o exemplo mais recente é o das búfalas em Brotas (SP).

Este pesar é coerente? Continuar consumindo animais ou produtos de origem animal beneficia os animais? Como? Claro que não podemos ignorar que esse tipo de consumo é cultural, é baseado em hábitos, condicionamentos.

Também não há como negar que é a ausência de reconhecimento dos animais como indivíduos, o que tem relação com o papel imposto a eles, por exemplo, no contexto da pecuária, e em benefício de um substituível consumo humano, que favorece uma desconsideração de direitos como sujeitos.

Muitos dizem que um animal não humano não deve ter direitos porque não é como nós, porque existe para “fornecer alimentos”. E esta percepção do fornecer é apropriar-se do que é gerado, produzido por outro animal, não por nós – e isto quando o produto não é sua própria carne que depende de sua morte.

Ainda hoje, para muita gente o sofrimento não humano só existe ou é reconhecido quando um animal é deixado para morrer ou quando é morto “de forma não convencional”. Mas há maneira correta e compassiva de matar um animal que não quer morrer?

Mudar nossas maneiras de viver 

Aqueles que sangram de ponta-cabeça nos matadouros anseiam por tal fim?  Destino de animais criado para consumo é produzir e, quando deixar de produzir, morrer. Basta não ser mais considerado produtivo para ter um infeliz e tão comum fim.

Há regras, convenções, anuências e leis que existem mais para garantir a continuidade e fortalecimento desse processo do que para proteger os animais. É uma forma de um sistema amparado pela sociedade dizer que “tem feito o possível pelos animais” sem tirá-los da cadeia de consumo. Ou seja, enquanto continua e amplia a massiva subjugação não humana.

Se desejamos o melhor para os animais, não devemos nos iludir e esperar que as coisas aconteçam apenas por iniciativa dos outros. Devemos assumir nossas responsabilidades e pensar primeiro em como podemos contribuir. O que podemos fazer a partir de nossas maneiras de viver?

Podemos mudar, entender que a partir do momento que nos recusamos a tratar animais como bens móveis, produtos ou criaturas que devem existir apenas em nosso benefício, ampliamos nosso círculo moral e reconhecemos que não ajuda lamentar por eles e não reconhecer a importância de libertá-los de nossa cadeia de consumo.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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