Leite é violência e morte

Foto: Andrew Skowron

Se estou em um mercado, observo uma caixa de leite de vaca e digo que não consumo porque significa violência e morte, acharão que sou louco, darão risada. Na melhor das hipóteses, pensarão que “perderam algo em relação à minha fala”.

Eu poderia achar estúpida a reação e percebê-los como ignorantes e alienados – condená-los e afastar-me desprezando-os. Mas seria uma situação de uma verdade? Quais informações mais chegam ao consumidor médio, que nunca esteve perto de uma vaca ou de um bezerro no sistema convencional de leite? Ele sabe que é comum animais serem mortos quando não considerados úteis à “cadeia produtiva”?

Por que ele concordaria comigo se todas as mensagens que envolvem leite/derivados por “fontes produtivas”, incluindo propagandas, mostram que é processo que consiste apenas em fleumática ordenha animal? Os símbolos e significados construídos em torno desse sistema a partir da infância o fariam pensar o oposto?

O que reforçava a escola sobre o consumo de leite e que o oferecia como alimento essencial na sua não essencialidade? Quais elementos da cultura da mídia o motivavam a pensar o oposto disso? O que diziam os profissionais de saúde?

Quantos reforços ao longo da vida o levaram a pensar no leite como dispensável e como produto de imposição, violação da intimidade (do que depende a lactação?), violência e morte? Tudo sobre o leite a partir de fontes propagandísticas é pacífico; e são ardis que invadem nossos lares, nossas mentes, pela oficialização.

A propaganda então ganha caráter de essencialidade, irrefutabilidade; ainda que evoque até (ausente) alegria manifesta por animais em múltiplas quimeras de antropomorfismo.

Esses símbolos que abraçamos bem cedo serão nossos referenciais, a não ser que haja conflito que nos permita repensar hábitos e por que os mantemos, e a quem atendemos? O que seria esse paladar que não resultado de condicionamento?

Quando, por iteração, moldado, leva ao estranhamento sobre determinadas observações. Pode despertar deboche, resistência e tanto mais. Então não posso dizer que estranhável é não saber que na indústria do leite a vida existe à medida que existe leite. Quando não há, morrem todos – bezerros e vacas. Mas quando essas informações chegam até nós, o que devemos fazer?

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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