Em dezembro, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) pode aprovar um financiamento público de mais de R$ 240 milhões para a Marfrig, que é a segunda maior indústria de carne bovina do mundo.
Em um período em que o impacto ambiental da pecuária tem ganhado mais visibilidade, a alegação da empresa para justificar o empréstimo é de que os recursos serão utilizados na produção de “carne sustentável”, como parte de uma iniciativa intitulada “Plano Verde+”.
“A Marfrig tem um histórico de compromissos não cumpridos, violações de direitos humanos e de compra de gado de fazendas ilegais dentro dos territórios dos povos indígenas na Amazônia, além de ser responsável por grande sofrimento imposto aos animais”, informa a campanha Divest Factory Farm, endossada por 200 organizações do mundo todo.
“Instamos o BID Invest a não fornecer o empréstimo, alertando que apoiará uma empresa cujas práticas provavelmente levarão a mais desmatamento e violações dos direitos humanos nos próximos anos.”
Em carta aberta, a campanha também frisa que o Banco Interamericano de Desenvolvimento deve suspender esse financiamento se quiser honrar o seu compromisso com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e as metas do Acordo do Clima de Paris.
Denúncia da Repórter Brasil
Em 2019, a Marfrig foi denunciada pela ONG Repórter Brasil como responsável por compra de gado proveniente de áreas desmatadas da Amazônia.
O caso citado envolve o pecuarista Adriano José de Mattos, que já havia sido autuado pela prática criminosa em 2016 e em janeiro deste ano foi flagrado criando ilegalmente gado na Área de Proteção Ambiental (APA) Triunfo do Xingu, em São Félix do Xingu, no Pará.
Levantamento da ONG revelou que a Marfrig recebeu gado de Mattos em fevereiro de 2019 em um de seus matadouros em Tucumã (PA). “Os animais foram registrados como sendo provenientes da Fazenda Limeira [de Mattos], de acordo com documentos oficiais de controle de rebanho consultados pela reportagem.”
A Marfrig argumentou que na data da aquisição as informações sobre a área desmatada não estavam disponíveis no site do Ibama. Porém o Ibama sustentou que esses dados foram divulgados no dia 29 de janeiro, antes da compra feita pela Marfrig.
Denúncia do Greenpeace
Em junho de 2020, o Greenpeace publicou divulgou um relatório apontando que as maiores indústrias de carne do país, como JBS, Marfrig e Minerva Foods, compraram milhares de bovinos criados em áreas de desmatamento ilegal na Amazônia.
Segundo o Greenpeace, as três indústrias que ocupam papel de destaque no cenário global de carne bovina compraram animais transportados da Fazenda Barra Mansa para a Fazenda Paredão, situada no Parque Estadual Ricardo Franco, alvo de desmatamento. O proprietário das fazendas foi identificado como Marcos Antônio Assi Tozzatti.
No relatório, o Greenpeace conclui que nenhum frigorífico ou supermercado no Brasil pode garantir que o gado criado e comprado a partir da Amazônia brasileira seja livre de desmatamento.
Denúncia da Mighty Earth
Também em 2020, de acordo com a ONG Repórter Brasil, com base em dados do Instituto Centro de Vida, parte do fogo que devastou o Pantanal teve início em cinco fazendas de pecuaristas que comercializam gado para o grupo Amaggi, do ex-ministro e ex-senador Blairo Maggi, e para o grupo Bom Futuro, de Eraí Maggi, considerado o maior produtor de soja do mundo. “Esses dois grupos empresariais, por sua vez, são fornecedores das gigantes multinacionais JBS, Marfrig e Minerva.”
No ano passado, a organização Mighty Earth também divulgou um relatório expondo a relação da JBS e Marfrig, que respondem por mais de 50% das exportações da carne bovina brasileira, com a devastação que atinge a floresta amazônica.
A explicação é que parte do gado dessas empresas vem dessa região afetada pelo desmatamento ilegal. “Seus produtos são vendidos no mundo todo – até mesmo por varejistas que afirmam ser contra o desmatamento nas cadeias de abastecimento de carne bovina”, informa a organização que cita também a Minerva Foods como outra empresa que tem favorecido as grandes queimadas.
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Uma resposta
Se for para carne vegetal e de laboratório, OK; se for para carne ‘normal’, então, é financiamento para genocídio,