Matar um animal é uma incontestável arbitrariedade

Ninguém nasce ansiando pela morte, nem aqueles que são mortos aos milhões (Foto: Jo-Anne McArthur/We Animals)

Matar um animal, uma criatura que não quer morrer em nosso desnecessário benefício, é uma incontestável arbitrariedade; uma facciosidade que parte de quem, por uma questão cultural, não vê nada de errado em subjugá-lo.

Não conheço história de animal que sentiu prazer em tornar-se alimento. Ainda que acontecesse em contexto fictício fundamentado na realidade, sabemos que até os animais considerados menos inteligentes não são tão tolos assim. Mesmo em um cenário ultrarromântico isso seria insidioso e baixo.

Ninguém nasce ansiando pela morte

Ninguém nasce ansiando pela morte, nem aqueles que são mortos aos bilhões para consumo. Logo não há como desconsiderar que alimentar-se de animais significa nutrir-se da privação, padecimento e fim de seres vulneráveis. Os níveis são diversos. Pode haver barbárie ou não.

Mas não seria o anseio pela exploração e morte de um animal uma manifestação de barbárie? Muitos dizem em sua defesa que há métodos menos cruéis de matar animais, que podemos usurpar vidas que não nos pertencem sem a necessidade de excessiva violência.

Será que essa defesa volta-se à minimização do sofrimento animal ou funciona como um afago na consciência humana? Será que nos importamos com os animais ou com a ideia de sermos vistos como menos empáticos, insensíveis ou incivilizados? Temos ojeriza pela possibilidade de sermos vistos como bárbaros porque promovemos um suposto padrão de exemplar civilidade.

Um prazer de minutos é equiparável ao valor de uma vida?

A ideia de uma morte romanesca em prol de seres humanos, logo de outra espécie, é quixotesca – para usar a sutileza de um eufemismo em relação ao antropocentrismo e especismo que esvaziam as consequências de nossas ações pelas conveniências de nossas omissões.

“Sou grato a este animal que morreu para minha nutrição”, há quem diga antes de uma refeição. Mas será que a sua nutrição depende da exploração e morte de uma criatura senciente? Um prazer com duração de minutos é equiparável ao valor de uma vida?

A expressão de um animal instantes antes da morte revela explicitamente o quanto ele não anseia por tal gratidão, já que mesmo quando os criamos e os submetemos a um nível visceral de condicionamento, isso não significa que eles veem-se como seres que existem para nos servir.

Afinal, servir ao ser humano não é uma característica natural de seres de outras espécies, mas somente uma consequência de séculos de condicionamento, agrilhoamento e subordinação forçada.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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