Escola promove respeito aos animais e ao meio ambiente

“O Miin atua sobre três pilares: o livre brincar, a construção identitária e as interações” (Foto: Movimento In Natura/Divulgação)

Fundada no início do ano, a escola Movimento Infância In Natura, sediada na Tijuca, no Rio de Janeiro, e que atende crianças com faixa etária de um a seis anos, preza pelo respeito aos animais e ao meio ambiente, além de oferecer uma proposta pedagógica mais humanizada. A instituição surgiu da necessidade de dois casais que não encontravam uma alternativa satisfatória que acolhesse seus filhos enquanto trabalhavam.

“Constatamos uma lacuna nesse segmento tão básico e de tanta relevância, porque se trata da primeira separação entre pais e filhos, e ao mesmo tempo é quando se inicia a formação identitária da criança, em que o ambiente, o conceito pedagógico e o entorno fazem toda a diferença”, informa um dos fundadores, Walter Vendhas, acrescentando que a preocupação veio à tona em 2016.

Em 2017, o desejo de viabilização de uma escola diferenciada foi transformado em um projeto que exigiu pesquisa e dedicação. “Colhemos na prática a expertise necessária para dar início a esse sonho. Ainda temos muito a aprender, exercitar, tentar, provar e trocar, porque acreditamos que o Miin é um organismo vivo, pulsante e, por isso, nunca estará pronto”, avalia Vendhas.

Segundo a escola Movimento Infância In Natura, os primeiros anos de vida de uma criança são muito importantes, porque é nesse período que a fala, a escuta, as texturas, cores, formas, paladar, afeto, cuidados com o corpo, liberdade de escolhas e o respeito à individualidade e ao viver coletivo são elementos fundamentais na formação identitária. Para entender melhor a proposta do Miin, o VEGAZETA entrevistou Walter Vendhas. Confira:

O Movimento Infância in Natura pode ser definido como uma escola? Ou vai além?

Sim, o Movimento Infância In Natura (Miin) é, desde o início de 2018, uma escola com alvará de funcionamento e que atende todas as determinações da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, subordinada à Secretaria Estadual de Educação. É uma escola no sentido etimológico (do grego, skhole = tempo livre). Nos consideramos uma escola com uma proposta alternativa onde o brincar espontâneo, livre, é levado a sério.

De que forma há o incentivo ao respeito aos animais e ao meio ambiente?

O Miin entende que a alimentação vegana é a entrada para que a criança prove e conheça uma gama de alimentos naturais e nutritivos, podendo estabelecer uma riqueza quantitativa e qualitativa na formação do seu paladar e, consequentemente, nas suas escolhas alimentares. O Miin é sensível à questão da exploração e crueldade animal. Porém, a cultura alimentar de cada família é uma questão em que o Miin não interfere. O curioso é que hoje quase 80% das famílias que optaram pelo Miin não são vegetarianas/veganas. Apesar disso, entendem que a alimentação que praticamos é a mais adequada para seus filhos.

Vocês acreditam que está crescendo no Brasil o interesse por modelos pedagógicos mais voltados à humanização da criança?

Achamos que sim. Talvez não na velocidade necessária. Os movimentos de transformação social, em que a educação ocupa um lugar prioritário, exige um esforço muito grande e geralmente depende da iniciativa de segmentos isolados da sociedade. São questões históricas e políticas que não priorizam o bem-estar de todos e todas.

O Miin tem como referência alguma escola ou método já colocado em prática por outras instituições de ensino? Como por exemplo o Método Montessori.

O Miin atua sobre três pilares: o livre brincar, a construção identitária e as interações. Resumidamente, o livre brincar dá à criança um contorno de segurança, num ambiente preparado onde há uma intenção de que ela tenha liberdade de desenvolver com o espaço, com as outras crianças e com os educadores a construção do eu individual e do eu coletivo. Nossas inspirações vêm de lugares distintos como a Educação Viva – Escuela Viva Del Bosque, no Uruguai, Escola Casa Redonda e outras metodologias que respeitam a liberdade e estimulem as potencialidades de cada criança.

No material que você me enviou consta que a alimentação na escola é baseada em alimentos integrais e frescos. Todas as refeições na escola são isentas de alimentos ou ingredientes de origem animal? Que tipo de alimentos são oferecidos aos estudantes?

Nenhuma alimentação do Miin possui ingredientes de origem animal. Basicamente, frutas, grãos, cereais, legumes e verduras. Temos uma nutricionista vegana que elabora o cardápio mensal, de acordo com os alimentos da época, elaborados diariamente para colação, almoço, lanche e jantar. Dentro do possível, parte do nosso cardápio é preparado com alimentos orgânicos.

Além da alimentação, o veganismo está presente em algum outro aspecto do Movimento Infância In Natura?

O Miin não se intitula como uma escola vegana. Somos uma escola com alimentação vegana. Acreditamos que esse seja o primeiro e principal passo para a conscientização do bem-estar individual e coletivo no que diz respeito às interações com os demais seres vivos e com o planeta.

Considerando a experiência prática do Miin, de que forma a natureza contribui para o processo de aprendizagem das crianças?

Temos uma educadora inspiradora que é engenheira ambiental e permaculturista. Ela convida as crianças a cuidarem do nosso quintal participando de atividades de plantio, colheita e identificação de plantas e frutos comestíveis. Também participam da lavagem, corte e experimentação/degustação de alimento in natura, seja lavando e cortando o alimento, observando a diferença entre alimento cru e cozido, confecção de tortas vivas, manejo da composteira, etc.

Na escola, as crianças têm o primeiro contato com a permacultura a partir de que idade?

A partir de seu ingresso no Miin a criança já tem contato de forma natural com alguns conceitos básicos da agroecologia.

A proposta pedagógica tem sido bem aceita?

Sim. O feedback é bastante animador. Para a nossa surpresa, hoje temos um público bem heterogêneo que se identifica com a nossa proposta.

Há a possibilidade de atender futuramente outras faixas etárias?

Estamos sendo cada vez mais questionados sobre essa possibilidade. Claro que gostaríamos de estender nosso projeto a outras faixas etárias, dando continuidade a essa opção de educação. Entretanto, o Miin ainda é muito novo, funcionamos como escola há apenas nove meses. Hoje nosso esforço está mais concentrado no movimento de consolidação do que de expansão. Temos que colher alguns frutos até para entendermos se estamos num caminho realmente potente e seguro. Não dá para pensar na ampliação ainda. Mas está cada vez mais em nosso radar.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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