Não é difícil reconhecer a dor dos animais

Com o reconhecimento da dor dos animais é que sentimos a necessidade de aliviá-la. Não podemos mimetizar com perfeição a partir de nossa consciência a sua experiência, colocar-se em seu lugar como se sua dor pudesse ser reproduzível como um exercício de expressão com exatidão.

Até porque, você não sou, e o sofrimento coletivo também é individual, portanto, tem seu núcleo responsivo individual, que converge aos tensionamentos que podem ser/parecer muito mais explícitos em uns do que em outros; e nada disso altera o fato de que posso compreender que há sempre tipos de sofrimentos evitáveis por nossas próprias decisões.

Não preciso ser um animal não humano para reconhecer essa realidade, assim como não preciso fingir que é irrealidade. Qualquer criatura dotada da capacidade de sentir não aprecia o sofrimento, e o evitará sempre que possível, porque a dor não é agradável, não é almejada, e tende a uma multiplicidade de visceralidades quando imposta.

Se reconheço o que significa a dor como consequência para alguém que não sou, sim, há um exercício de empatia. Então posso imaginar-me em situação análoga, que não significa que seja expressão de sua própria, porque você não sou, mas posso imaginar o que isso representaria se o alvo de uma dominação que finda só com o meu fim, que já era fim em princípio, fosse a minha própria corporeidade.

Se penso nela, também penso em tudo que existe dentro dela, e se roubam-me este controle, que é veículo da minha existência (que pode evocar inexistência), minha materialidade, como reage o que a habita e é forçado a desabitá-la? Afinal, não é também da minha capacidade em considerar “e se” que exercito a ponderação sobre “o que não sou” e “o que o outro é”, numa referência às implicações dolorosas da senciência?

Melhor seria se não precisássemos do “e se”, que não fosse necessário nos imaginarmos no lugar do outro, tenham essas ideias maior proximidade ou não com a realidade, porque isso significaria que apenas reconhecemos que o outro pode ser o outro, e que sua dor é reprovável por ser dor; e que sua descontinuidade depende da validade prática da reprovação de sua exploração.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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