Não existe fatalidade quando animais são criados para morrer

Foto: Stefano Belacchi

Um pequeno porco morreu entre outros da mesma idade que o observavam. Podemos lamentar pelo pequeno sem vida, pelo seu corpo que então tornou-se somente um corpo.

Mas mesmo com vida não era somente um corpo, se sua criação é condicionada ao seu fim como um corpo? Afinal, a carne desejada é parte de um corpo. Logo não é o corpo que interessa na sua criação?

Sobre a cena dos suínos, os olhares não são os mesmos. Por isso, reconheço que a percepção do que aconteceu também não. Afinal, indivíduos, mesmo não humanos, reagem de maneira diversa e percebem a realidade de forma diversa.

Mas isso não influencia seus fins e não faz de quem continua vivo alguém que não experimentará a morte em poucos meses. Portanto, um animal que observa um animal morto criado para a mesma finalidade que a sua está diante de si mesmo em um estágio diferente.

Então vejo um animal testemunhando uma morte que também é a sua. Porque a morte é intrínseca a essa realidade, já que ser criado para consumo é conviver com a iminência de morrer, hoje, pelo que chamam por conveniência de eventualidade, ou depois, pela vontade.

O que mais podemos pensar sobre animais que olham para um deles morto? Uma “fatalidade”? Se fosse uma “fatalidade” não significaria que a morte é consequência de algo que foge ao controle humano? Se a condição desses animais, que é também imposição, existe exatamente pelo controle humano, o que ampara a ideia de “fatalidade”?

Alguns corpos caem antes de outros, mas todos cairão e continuarão caindo enquanto não mudarmos nossa arbitrária percepção.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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