“Não fique bravo com a mulher que matou uma girafa negra”

Tess Thompson Talley, mulher que matou uma girafa simplesmente por “esporte” (Foto: Reprodução)

Ontem (3), o jornalista britânico Chas Newkey-Burden, publicou no The Independent um artigo intitulado “Não fique bravo com a mulher que matou uma girafa negra se você planeja comer carne no jantar esta noite” – em crítica às pessoas que sentem pena da girafa, mas não de outros animais mortos aos milhões e até bilhões por ano. Confira o artigo traduzido na íntegra:

Ver alguém posar para fotos ao lado do corpo de um animal morto pode fazer as pessoas se sentirem realmente bravas – mas nem sempre. Quando as imagens de Tess Thompson Talley escorada sobre o cadáver de uma girafa de 18 anos na África do Sul se tornaram virais, houve uma erupção de indignação online. Ela foi condenada e descrita como “repugnante”, “vil” e, pior, acusada de ser “egoísta”.

Como vegano, acho compreensível essa raiva – odeio qualquer exploração de animais. Mas talvez seja também por isso que acho que a indignação está amarrada a essa hipocrisia. Podemos percorrer os mesmos feeds de mídias sociais em qualquer dia da semana e encontrar outras pessoas postando fotos de seu espaguete à bolonhesa ou sorrindo com suas asas de frango.

Nesse contexto, fotos de pessoas posando ao lado de animais mortos são recebidas não com ódio, mas com “curtidas”. Em ambos os casos, os animais foram mortos para o desfrute dos seres humanos. Por que a matança anual de 70 mil animais pelos caçadores de troféus é recebida com indignação e fúria, mas a matança de 70 bilhões de animais criados e abatidos pela indústria da carne não é?

Para ser claro, não estou sugerindo que matar animais para comer é o mesmo que matar por esporte. Não; em muitos aspectos é pior matar para comer. Em primeiro lugar, um típico consumidor de carne causa a morte de mais de 50 animais a cada ano; muito mais do que um típico caçador de troféus mata.

Além disso, os animais mortos por caçadores costumam desfrutar de anos de liberdade antes de encararem uma morte horrível. Em contraste, os animais que as pessoas costumam comer no jantar têm vidas curtas, dolorosas e pouco saudáveis ​​antes de serem abatidos aos montes.

Com vidas muito curtas, as galinhas criadas para abate são mortas com 21 a 170 dias de idade, enquanto as vacas de corte são enviadas para o abate com um a dois anos. Já os porcos são abatidos aos cinco ou seis meses de idade. Você está basicamente comendo bebês. Moralmente falando, não vejo diferença entre matar um porco ou uma girafa ou um gato ou uma ovelha. Uma vez que você parou de comer carne, o duplo padrão parece claro e negar isso parece loucura.

Tenho amigos que comem carne e eles gaguejam e gaguejam enquanto tentam explicar a “grande diferença” entre comer uma vaca e um cavalo, por exemplo. Eles apontam para o fato de que alguns animais caçados são espécies ameaçadas, como se o assassinato fosse apenas trágico se cometido contra um membro de um grupo ameaçado de extinção. Por esse estranho cálculo, seria melhor matar um humano do que uma lontra-marinha.

A maioria das pessoas gosta de pensar que são amantes dos animais e, ao mesmo tempo, não gostam de pensar nas formas como realmente contribuem para os maus-tratos aos animais. Durante a atual onda de calor, tem havido uma enorme preocupação sobre os cães deixados em carros quentes. A RSPCA [Sociedade Real para a Prevenção da Crueldade Contra Animais] diz que tem sido “inundada” com chamadas sobre tais incidentes, e a polícia está sendo chamada para mais e mais episódios, e a mídia social está “inundada” de raiva e preocupação.

No entanto, a cada ano, bilhões de animais vivos são transportados por milhares de quilômetros sem comida, água ou descanso suficientes. Na semana passada, ativistas disseram que mediram temperaturas de 31 graus em um caminhão transportando ovelhas na Grã-Bretanha. Podem os consumidores de carne que ficam zangados com cães em carros [quentes] não juntarem os pontos?

Muitas vezes, é uma sensação incômoda de culpa sobre o nosso próprio comportamento que nos leva à indignação quando outra pessoa se comporta de maneira semelhante, mas um pouco diferente. Em vez de considerar nossos abusos contra os animais, gritamos aos outros. Em vez de discutir por que não há problema em ferir algumas espécies e não outras, vamos concordar em proteger todas elas. Ou, em outras palavras: se você não quer que os animais sejam mortos, pare de pagar às pessoas para matar animais por você.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

6 respostas

  1. Sério? Você não vê diferença entre comer a carne de um animal criado para este fim e de um animal raro em extinção. Acho que o bom senso está em extinção. Ela fez isto de esporte. Sou super a favor do uso consciente dos alimentos, reduzimos em muito o consumo de proteína animal aqui em casa particularmente, mas não nos adaptamos a dieta vegana. O que se precisa é bom senso….inclusive com as comparações.

    1. E ainda por cima quer dizer que caçar pra se alimentar é pior que matar por esporte. Mal sabe esse vegano cara de pau, a verdade inconveniente que a militância vegana não diz. Vocês ignoram a quantidade de terras desmatadas para agricultura, compram sal rosa que explora crianças e adolescentes na sua produção mas não compram o que saí do mar por causa do sódio. Utilizam óleo de côco, que são produto de desmatamento gigantesco para a monocultura. No final ambos são deletérios para a natureza, carnívoros não são o vilão que vocês insistem em apresentar.

  2. Post lixo, você é tão lixo quanto a caçadora. Você quer comparar um animal morto para comer com um ameaçado em extinção e só pelo prazer de matar? Vai estudar, vai. Esse é o perigo da internet, qualquer um faz um blog e posta bosta.

  3. Entendo seus argumentos, mas estrategicamente falando, um tiro no pé achar que atrelar a caça por esporte com a condição natural de alimentação, nem todo animal que vira comida é maltratado antes de ser consumido e falar sobre isso pode até ser importante, mas você só está irritando as pessoas que, assim como você, são contra a caça de animais.
    Eu por exemplo não vou deixar de comer carne e se em algum momento alguém me disser que não posso ficar bravo com a mulher que se vangloria pela morte da girafa, eu simplesmente darei de ombros, então que a caça seja liberada, não vou tentar te convencer do contrário, na verdade não vou abrir mão de ser onívero.

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