Ninguém mais queria comer carne

Ilustração: Vegan Misanthrope

Estava feliz em vê-los livres da violência. Embaixo da montanha havia a “Última Paragem”, para onde enviaram o último rebanho que já não seria abatido. Quem ainda queria sentir nos lábios o toque da carne? Quem desejava mastigá-la e fazê-la descer pela garganta?

Vê-la assada, cozida ou grelhada já não atraía – nem preparada de forma alguma. Ervas, especiarias e outras riquezas do reino vegetal que antes tornaram a carne tão desejável e palatável já não cumpriam esse papel. “Talvez nem queiram, cansaram de seu uso equivocado e dissimulado. Sim, recusa.” Alho, sal e cebola? Já corriam da carne. Há momentos em que os efeitos se desfazem para sempre.

O engano tornara-se desengano. E admirá-la crua? Nem pensar. Já era desconfortável só imaginar. “Que esses hábitos sejam deixados para sempre com os carnívoros de verdade, que fazem o que fazem porque assim o são, não porque foram condicionados a sê-lo.” O que seria de nós sem tanto condicionamento?

“Teríamos sido mais justos com outras espécies? Não teríamos trazido tantos para a servilidade e sofrimento?” Nossa consciência não deveria por excelência superar qualquer abjeto equívoco da nossa conveniência?

“Ao mundo vieram muitos animais desconectados de senso de pertencimento.” Sim, quantas criaturas que nunca existiram na natureza foram criadas pela humanidade para ocupar o espaço daquelas que aqui viviam por centenas ou milhares de anos?”

Expulsamos e destruímos o natural pelo não natural. Lucro ou fome? Muito dinheiro e perpetuação da fome. “A humanidade achava inteligente matar para morrer, uma consciência superada.”

Quantos bifes mataram quantas espécies? Ninguém sabia nem saberá, mas pode-se inferir, raleando os equívocos da humanidade, que são sempre maiores, porém julgados menores pela crença no clemente poder da própria inconsistência mascarada por complacência.

Maldade, conveniência, ganância, arrogância, sobrevivência ou tudo combinado e por vezes descombinado? O que dizer da face sombria da industrialização, que transformou milhões de mortos por ano em bilhões? Não há reparação ao mal que foi feito, e continuamos aqui tentando ver o que ainda se pode fazer.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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