Novo estudo aponta graves consequências ambientais da produção de carne no Brasil

“Metade dos produtos agrícolas enviados do Brasil para a UE pode ser rastreada até regiões desmatadas” (Foto: Acervo Greenpeace)

Um novo estudo da Fundação Heinrich Böll, o Meat Atlas 2021, aponta as graves consequências ambientais da produção de carne no Brasil. O trabalho não é apenas sobre o Brasil e informa que entre 70 e 80% de todas as importações de carne bovina para a União Europeia são provenientes do Mercosul.

“A carne bovina já é um dos principais motores do desmatamento. Na Amazônia, o gado pasta em 63% de todas as terras desmatadas. Metade dos produtos agrícolas enviados do Brasil para a UE pode ser rastreada até regiões desmatadas.”

Ainda assim, segundo o estudo, as exportações de produtos de origem animal devem aumentar. “Previsões semelhantes foram feitas para a soja usada principalmente como ração para a indústria de carne europeia. O Brasil é o maior exportador mundial de soja”, consta no Meat Atlas 2021.

A Avaliação de Impacto de Sustentabilidade prevê que as importações de soja e sementes oleaginosas do Mercosul destinadas à ração animal podem subir até 5,9%, com graves consequências ecológicas. Além disso, quase dois terços dos pesticidas comercializados no Brasil são aplicados no cultivo da soja e de cana-de-açúcar.

“Um acordo com a UE eliminaria tarifas sobre agrotóxicos importados pelo Mercosul, que agora chegam a 14%. O comércio de pesticidas seria fortalecido em benefício da indústria química europeia e principalmente alemã”, aponta a pesquisa.

Negligência e comércio internacional 

O estudo também informa que em 2019 o Brasil exportou quantidades recordes de carne de aves e suínos para a China em consequência da peste suína africana que atingiu parte do continente asiático.

Essa mesma indústria brasileira foi negligente em não evitar um cenário em que dezenas de milhares de trabalhadores foram infectados com a covid-19 em 2020.

“Dezenas morreram no início da primeira onda da pandemia. Plantas avícolas pertencentes às maiores empresas de carnes do mundo, como JBS e BRF, foram criticadas por se recusarem a fornecer aos seus trabalhadores o equipamento necessário para protegê-los”, cita o Meat Atlas.

“No Mato Grosso do Sul, um quarto dos trabalhadores em um matadouro da JBS testou positivo para o vírus.” A pesquisa ressalta que uma grande parte da carne que entra no comércio internacional – seja como animais vivos ou abatidos – vem do Brasil, que é o maior exportador de carne bovina do mundo.

Crescimento do consumo de carne é preocupante

“Há oito anos atrás, publicamos o primeiro Meat Atlas. Desde então, muita coisa mudou na Europa e no mundo todo. A carne tornou-se um problema crítico na sociedade. É claro que muitos (especialmente jovens) não querem mais aceitar os danos com fins lucrativos causados pela indústria da carne e estão cada vez mais interessado e comprometidos com a questão do clima, sustentabilidade, bem-estar animal e soberania alimentar.”

A Fundação Heinrich Böll destaca que o objetivo do Meat Atlas 2021 é apoiar todos aqueles que buscam justiça climática, soberania alimentar e que querem proteger a natureza. “É um trabalho feito por muitos para lançar luz sobre os problemas decorrentes da produção industrial de carne. O consumo mundial de carne mais do que dobrou nos últimos 20 anos, chegando a 320 milhões toneladas em 2018.”

É importante considerar que a ONU prevê que até 2050 a população mundial será de 9,7 bilhões de pessoas. O que podemos esperar até lá se o volume atual de produção de alimentos de origem animal já é alarmante para o meio ambiente? Não há outra solução que não seja uma mudança no atual sistema alimentar global. É por isso que muitas pessoas hoje reconhecem a importância de abdicar do consumo de alimentos de origem animal pensando também no futuro do planeta e das próximas gerações.

Clique aqui para ter acesso ao Meat Atlas 2021.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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