O problema da exploração animal está no silêncio da maioria

O mundo é o que fazemos dele, e se não vemos necessidade em fazer o bem, menos ainda temos de fazer o mal

Não é difícil encontrar pessoas usando qualquer justificativa que lhes é conveniente para continuarem explorando animais ou tomando parte nessa exploração por meio do consumo, ou para causarem danos ao meio ambiente – ou defenderem ou ignorarem esses danos.

Isso é previsível levando em conta a realidade diante dos nossos olhos. Porém, animais devem ou merecem ser mortos e reduzidos a alimentos e outros produtos? A natureza deve continuar sendo espoliada?

Exploração perpetuada pela conveniência

Admito que sou contra a exploração de animais e também contra o mal causado ao meio ambiente, seja em decorrência dessa exploração ou não. Creio que se há interesse em continuar perpetuando essas formas de exploração, isso se dá apenas por conveniência, até porque alternativas que não envolvam essas práticas não faltam.

Pessoas dizem, pelos mais diferentes motivos, que toda a preocupação com os animais não humanos e com o meio ambiente não passa de bobagem, sensacionalismo barato. Será que os ativistas dos direitos animais e os ativistas ambientais dedicariam tanto tempo ou até mesmo suas vidas à criação de um massivo sensacionalismo global?

Se isso é verdade, por que há ativistas que recebem ameaças? Se o que eles fazem ou dizem está em desacordo com a verdade ou com a realidade, por que intimidá-los? E defender os animais e o meio ambiente não é algo moral, justo e valoroso?

Será que há mais grandes empresas e políticos com interesses em defender a exploração animal ou em antagonizá-la? Há mais grandes empresas e políticos com interesses favoráveis ou contra a exploração insustentável do meio ambiente?

Isso ainda pode soar para muita gente, dependendo de sua percepção de mundo, como uma incógnita, mas a realidade é reveladora, bastando refletir sobre a situação dos animais no mundo e o atual cenário de impacto ambiental.

Factoides, exploração animal e agressão ambiental

Não tenho dúvida alguma de que empresas que lucram com a exploração animal ou com a agressão ao meio ambiente têm muito mais recursos para criarem factoides contra a defesa dos direitos animais e do meio ambiente do que os defensores dos animais e do meio ambiente em produzirem conteúdo contra essas explorações.

Enquanto de um lado há uma inesgotável quantidade de recursos que pode manipular a opinião pública, do outro há muitas pessoas se dedicando de forma voluntária a causas em benefício dos animais ou do meio ambiente, ou dos dois.

Em muitos casos, são pessoas que têm apenas a própria voz, a própria consciência e a vontade de usar também suas habilidades e profissões a favor de quem não tem voz.

Felizmente, não é tarefa difícil descortinar as dissimulações que envolvem a exploração de animais e do meio ambiente. Por outro lado, é doloroso reconhecer que mesmo diante dessas informações muitos preferem se calar ou se omitir.

Olhar de estranheza fundamentado no desconhecimento

Acredito que o que dificulta muito o entendimento da defesa dos direitos animais é o olhar de estranheza, um olhar fundamentado no desconhecimento, em algum pré-conceito ou preconceito que dependendo do grau de entranhamento não é tão fácil de ser extirpado.

Há uma ideia equivocada de que a luta pelos direitos animais é a luta por garantir mais direitos a seres não humanos, o que tanto na teoria quanto na prática não faz o menor sentido.

A verdade é que direitos animais são em primeiro lugar sobre o direito de assegurar que um ser não humano senciente não sofra em decorrência da intervenção humana. Em síntese, um direito simples e básico.

Outro ponto a se considerar é que há muitas pessoas imersas em uma condição egoica incentivada pela própria formação educacional, cultural e social, e também por um nível entorpecente de desinformação que lhes parece sempre admissível, fatalista, porque segundo suas interpretações condicionadas da realidade o mundo é como deveria ser.

O mundo é o que fazemos dele

Logo concluem que o sofrimento dos animais, por exemplo, não lhe diz respeito. O que, sobretudo, está longe de ser verdade. Afinal, o mundo é o que fazemos dele, e se não vemos necessidade em fazer o bem, menos ainda temos de fazer o mal.

Essa banalização da exploração, da violência, do que é vil e sua aceitação pode ser enquadrada no que foi definido há muito tempo por Lazarsfeld e Merton como disfunção narcotizante. Além da contumaz indiferença sedimentada pela disfunção, há também muitos casos em que o reconhecimento do óbvio passa a ser um exercício tortuoso, incognoscível e inalcançável. Exemplo é a indiferença em relação ao destino de animais reduzidos a alimentos e produtos.

Tudo isso endossa o que qualificamos como “parte de uma realidade que não nos interessa”, porque optamos por não entender o que isso representa para o outro, e também o que isso diz sobre as nossas relações com a vida, com o mundo e com outras espécies que exploramos e matamos sem qualquer necessidade.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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