O que é a morte para um animal criado para não viver? Para a humanidade, uma consequência do querer e fazer. Para um não humano, o quê?
Ninguém tentou ensaiar resposta, por não desejar simular consciência que não é sua associada à consequência que não é sobre sua existência, embora também pudesse ser.
Se não sou, o que cabe a mim? Mas não sendo suas são, portanto, desimportantes? O alheamento conduziu cada um a ideias de ausências que não soam inconfortáveis e execráveis – apenas realidade sendo realidade, em frequente benefício e perenização de um supremacismo julgado complacente.
Não resta-me dúvida de que nesta crença que atribui menor (que pode ser nulo) ou maior valor à existência, o ser não é o que é. No caso dos animais não humanos que produtificamos, por evidência diária, ser é não ser, e somente estar até não estar em uma brevidade a que também chamam de vida sem dignificá-la como tal.
Embora animais submetidos aos nossos prazeres e domínios sejam reconhecidos como viventes, devem ser reconhecidos, pari passu, como morrentes, porque vivem – sem viver – enquanto morrem.
Mas não como nós, porque não vivemos as misérias que nos impõem outra espécie que deseja nossa carne, nosso couro, nossos fluidos e tudo que evoca nossa matéria com fim de consumo e lucro.
Sobre nosso fim, com exceções, pouco sabemos, enquanto o deles, conhecemos e enaltecemos, direta ou indiretamente, porque em nós reside o fim desses animais que nascem mortos dentro de nosso próprio desejo.
Porque o fim precede o matadouro ou qualquer tipo de sacrifício. O fim também é a chegada de cada animal ao mundo que sofre as consequências de nossas escolhas.
E findam tanto que, quando se vão, é como se nunca tivessem passado por aqui. E quem dirá que passaram, se cada face é só mais um número à mortandade?
Animais não humanos, quando produtos ou criaturas de uso, são os mortos que não contamos. Não há precisão, só estimativas e estatísticas de volumes de carcaça.
E cada vida não é vida, que vira amontoado de coisas que misturam-se a outras, ainda que isso remeta, num estame de lucidez, a um acúmulo de corpos inanimados por imposição e imanente privação.
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