O que estamos fazendo com os animais?

Desmatamento, destruição de habitats, queimadas para dar lugar ao pasto que será percorrido por animais que serão mortos para se tornarem produtos para quem tem poder de compra (Fotos: Greenpeace/Hannah Gregus/Vegan Australia/Getty/Reuters)

Pense no maior número possível de notícias que você leu nos últimos tempos envolvendo os animais e reflita: “O que estamos fazendo com os animais?”

Por que mesmo diante de um cenário em que a criação de animais para consumo deve se tornar cada vez mais insustentável, até pelo volume de criaturas que já subjugamos e matamos, ainda insistimos em seguir por esse caminho?

Ao mesmo tempo em que criamos e matamos legalmente por ano até 72 bilhões de animais terrestres para consumo, temos 795 milhões de pessoas passando fome todos os dias, segundo a Food Aid Foundation.

A agropecuária já utiliza 77% das áreas agricultáveis do mundo e ainda assim não há qualquer indicativo de que a fome vá desaparecer, e porque essa atividade também privilegia as desigualdades sociais e não contribui com a segurança alimentar.

Não se produz alimentos animais para ajudar a acabar com a fome no mundo, mas apenas para lucrar com a venda de produtos para quem tem condições de adquiri-los – ainda que a agropecuária seja parte de uma intensa realidade industrial desde a década de 1950.

De lá pra cá, qual foi a contribuição dessa atividade para fazer do mundo um lugar melhor? Desmatamento? Êxodo rural? Degradação e subutilização do solo? Poluição por meio de descarte de resíduos animais e de antibióticos em nascentes? Resistência antimicrobiana?

“Carnes nobres” para quem tem poder aquisitivo e embutidos de baixa qualidade para as classes mais baixas? Ampliação da banalização da violência contra criaturas de outras espécies? Emissões de gases do efeito estufa? Favorecimento do potencial de surgimento de doenças zoonóticas?

Nessa esteira, os animais não humanos figuram na menor escala de consideração. Estão morrendo cada vez mais rápido para se tornarem produtos; e a tendência é que isso se acentue de forma ainda mais crônica se não mudarmos nossos hábitos de consumo. Ou seja, tirá-los do nosso prato.

Vamos insistir na falácia de que precisamos criar mais animais para consumo para atender uma população mundial de 10 bilhões em 2050? Se a pecuária não cumpre um papel social hoje, por que cumpriria no futuro quando sua expansão dependerá ainda mais da destruição de habitats da vida silvestre? Degradação que hoje é uma das principais causas da disseminação de doenças que tendem a surgir a partir da má intervenção humana na natureza.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *