O sofrimento da vaca e do bezerro

A vaca se chocou contra a porteira, que não abriu. Não possuía força para superá-la, mas ainda correu atrás do bezerro (Imagem: Reprodução)

Passando ao lado de uma fazenda, desacelerou ao ver uma vaca leiteira porteira adentro correndo atrás de um pequeno caminhão. Ficou curioso para saber o que estava acontecendo.

Quando a porteira abriu para o veículo passar, fechando antes que a vaca o alcançasse, viu um bezerro na carroceria de madeira. O animal olhava para a vaca e mugia, e ela retribuía.

Era um lamento prolongado, doloroso. Nunca tinha visto aquilo. A vaca se chocou contra a porteira, que não abriu. Não possuía força para superá-la, mas ainda correu atrás do bezerro.

Divididos pela mangueira, ficaram lado a lado por algum tempo – ela no pasto, ele na estrada de terra – até que o bezerro desapareceu por trás de uma cortina de poeira.

O viajante ficou surpreso com o que viu e decidiu seguir o pequeno caminhão. Queria saber o que seria feito com o bezerro. Alguns quilômetros depois entraram em um barracão e dois homens tiraram o bezerro da carroceria.

O animal tremia e os olhos iam de um lado para o outro. Não chegou a tocar o chão com os pés e foi levado para dentro a quatro mãos. Parecia que se debatia, mas estava fraco demais para fazer prevalecer qualquer resistência.

Minutos depois, ouviu som estranho. Não sabia se era mugido, gemido, tudo misturado ou outra coisa. Se aproximou e, por uma janela, viu o bezerro de ponta-cabeça sangrando e se debatendo. Os dois homens nem olhavam para o animal. Não era como se fosse atividade nova para eles.

Sem vida, e com um corte no pescoço que também chamam de “boca da morte”, o bezerro foi descarnado ali mesmo naquela tarde, e o couro separado, assim como a cabeça, que ficou ao lado de uma pia, com a língua de fora e apontando para o canto.

“Imagine se bezerro macho não fosse descartado? Como a gente faria churrasco de terneiro?”, disse um dos homens. “Pois é, é carne que vem pra gente sem custo. A gente não pode reclamar, tem que agradecer quem bebe leite.” “E não é?”

Gosta do trabalho da Vegazeta? Colabore realizando uma doação de qualquer valor clicando no botão abaixo: 




Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *