O tempo todo há animais sendo submetidos à exploração e morte

Foto: Jo-Anne McArthur

Não importa a hora do dia, se hoje é domingo, o tempo todo há animais vulneráveis sendo submetidos a situações de exploração e morte com fins de consumo. Por que não fazer um pequeno esforço para não contribuir com isso?

Pode parecer difícil mudar hábitos alimentares, considerando predileções, mas o que podemos definir como “difícil” para nós é o que determina o fim de outras vidas. Como ter pensamentos positivos e satisfação em torno da ideia de nutrir-se a partir de subjugação/violência/morte?

Claro que podemos sempre favorecer dissociações como meio de rejeição aos efeitos negativos dessa realidade financiada por interesses alimentícios, mas isso não suaviza sua concretude, não faz desaparecer o sofrimento nem evita a morte dos animais.

E, se ponderamos sobre animais terrestres, as maiores vítimas do paladar humano são aquelas que demonstram inerente mansidão. Sobre isso, recordo-me com frequência de uma observação feita por Tolstói em “O Primeiro Passo”, sobre a mansidão do animal que chega ao matadouro e o percorre para ser violentamente destruído, esvaziado de si para o restar de sua carne expropriada de vida.

A irresistência não humana explicita ainda mais a crueldade indissociável do hábito de alimentar-se de animais. Às vezes, é difícil não ver quem financia esse sistema por meio do consumo como os homens que atacam o boi vivo com os próprios dentes no conto “Uma Folha Antiga”, de Kafka, que descansam apenas quando do animal já não resta nada que o identifique como a criatura que foi.

No exemplo, abstrai-se o abatedor e coloca o consumidor numa posição que sempre foi sua, ou seja, de principal responsável pela morte não humana, na sua continuidade interminável perpetuada pelo hábito. Já conheci pessoas que trabalharam em matadouros que não comem animais – e sobre matar, a explicação era tão objetiva quanto possível: “Sempre tem gente querendo comer.”

O acionar de um disparo, a mão que leva à eletronarcose, a mão que empunha a lâmina e degola – são ações que permitem ideias de objetividade inconsistente, porque por trás dessa mão há tantas mãos que difícil seria contabilizá-las. Mas, com boa vontade, podemos tirar as nossas.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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