O terror dos porcos diante da morte

Foto: Aitor Garmendia

Visitando uma pequena planta industrial de abate de suínos, testemunhou o terror de alguns porcos que ouviram seus companheiros morrendo.

Guinchos, grunhidos, sons de corpos vivos e mortos, chocando-se contra coisas jamais conhecidas pelo corpo humano.

“Se descrevesse usos e não dissesse onde estou, alguém pensaria que falo dum filme de terror.”

Lá, qualquer barulho é só rotina, de dor ou horror, de instrumentos que também são armas que violam existências pacíficas até o último filete morno de sangue que sai pelo pescoço aberto.

“Desce numa estranha torrente. É a vida em forma líquida indo embora para nunca mais voltar.”

Alguns porcos escorregam antes da descarga elétrica. “Como se esgoelam os pobres infelizes que resistem à morte. Tentam recuar. Sim, um toque vil e atordoante com tipo estranho de bastão.”

Aqueles que sangram mais adiante, exibindo olhos moribundos, não veem os que tremem e espumam com a descarga. Logo suas expressões mudam como se fossem outras criaturas.

“É uma forma cruel de exaustão que também é princípio do fim. O controle de si é violado, roubado de forma irreversível.”

Observando corpos de ponta-cabeça, pensou nas línguas movendo-se como se a qualquer momento fossem engoli-las ou cuspi-las.

“Quando se é um número, o desespero dos porcos é um choro infinito.”

 

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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