Visitando uma pequena planta industrial de abate de suínos, testemunhou o terror de alguns porcos que ouviram seus companheiros morrendo.
Guinchos, grunhidos, sons de corpos vivos e mortos, chocando-se contra coisas jamais conhecidas pelo corpo humano.
“Se descrevesse usos e não dissesse onde estou, alguém pensaria que falo dum filme de terror.”
Lá, qualquer barulho é só rotina, de dor ou horror, de instrumentos que também são armas que violam existências pacíficas até o último filete morno de sangue que sai pelo pescoço aberto.
“Desce numa estranha torrente. É a vida em forma líquida indo embora para nunca mais voltar.”
Alguns porcos escorregam antes da descarga elétrica. “Como se esgoelam os pobres infelizes que resistem à morte. Tentam recuar. Sim, um toque vil e atordoante com tipo estranho de bastão.”
Aqueles que sangram mais adiante, exibindo olhos moribundos, não veem os que tremem e espumam com a descarga. Logo suas expressões mudam como se fossem outras criaturas.
“É uma forma cruel de exaustão que também é princípio do fim. O controle de si é violado, roubado de forma irreversível.”
Observando corpos de ponta-cabeça, pensou nas línguas movendo-se como se a qualquer momento fossem engoli-las ou cuspi-las.
“Quando se é um número, o desespero dos porcos é um choro infinito.”
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