Assassinos recebem melhor tratamento do que os animais

Animais a caminho do matadouro e a última refeição de John Wayne Gacy, um dos serial killers mais famosos dos Estados Unidos (Fotos: Eyes on Animals e Departamento de Segurança dos Estados Unidos)

Para que as pessoas possam se alimentar de uma “carne de qualidade”, os animais, por padrão, são deixados em jejum prolongado. Isto, claro, para que suas reações fisiológicas associadas à última refeição não comprometam a qualidade da carne, além de facilitar o abate.

Para além de toda a questão técnica que qualquer pessoa poderia usar como justificativa para tal ato, e claro que nesse caso o argumento se fundamenta na avaliação de um animal simplesmente como produto, te pergunto:

Isso parece justo? Moral? Aceitável? Você já considerou o fato de que até mesmo serial killers, assassinos que mataram de forma cruel dez, vinte, trinta pessoas, recebem melhor tratamento? Afinal, eles não costumam ser condenados à morte por degola, tiro seguido de degola, machadada seguida de degola, etc.

Sujeitos que estupraram e mataram dezenas de pessoas e que são condenados à morte nos Estados Unidos, quando não recebem a prisão perpétua, costumam ter o direito de escolher uma última refeição com tudo que lhes agrada – o que garante isso é a existência dos direitos humanos.

Animais não têm realmente direitos

Já os dóceis animais não humanos, relegamos à fome muito antes do golpe mortal. Afinal, enquanto “bens móveis” ou “semoventes”, que podemos interpretar como “bens de consumo” ou “objetos”, os animais não têm realmente direitos. São apenas propriedades com data de execução determinada pelo proprietário. 

No Brasil, assassinos em série também costumam receber melhor tratamento do que os animais de qualquer matadouro brasileiro. Porém a intenção não é exigir pior tratamento para os assassinos em série, mas perguntar se é moral tratarmos animais não humanos pior do que tratamos serial killers. 

Afinal, depois de objetificados, eles serão mortos por nós. Sendo assim, na escala de direitos estão abaixo daqueles que são considerados alguns dos piores criminosos da nossa história contemporânea – e somente por não serem humanos. 

Animais criados ou capturados para consumo ou outro tipo pungente de exploração estão na pior escala de tratamento da história da humanidade. Sob a ótica dos direitos humanos, a degola é prática inaceitável e bárbara. Por outro lado, é parte do processo do abate de um animal que será reduzido à carne.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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