O veganismo na vida de River Phoenix

“Algumas pessoas mal informadas afirmam que os ativistas dos direitos animais são terroristas, mas essas pessoas simplesmente ignoram quem são os verdadeiros terroristas – as empresas e indústrias que torturam literalmente bilhões de animais a cada ano” (Fotos: Getty)

Falecido com apenas 23 anos, o ator River Phoenix, que estrelou filmes como “Conta Comigo”, “Garotos de Programa”, Um Sonho, Dois Amores” e “O Peso de um Passado”, tornou-se vegano, assim como seu irmão Joaquin Phoenix, motivado pela experiência de ver um peixe agonizando perto do barco da família em sua infância.

Ver animais passando de uma criatura viva e vibrante, lutando pela vida, para algo inanimado, que é consequência de uma morte violenta, o chocou profundamente quando ele tinha sete anos.

“Foi a primeira vez que vimos isso. E foi a primeira vez que realmente reconheci que a carne não era apenas um hambúrguer ou cachorro-quente ou alguma comida disfarçada no seu prato, [e sim] que era um animal. Parecia muito bárbaro e cruel, e eu, meu irmão e irmã estávamos todos chorando e traumatizados. A realidade nos atingiu com tanta força”, confidenciou à revista Vegetarian Times em publicação de março de 1988. 

Assustados, River e seus irmãos afirmaram aos seus pais que jamais iriam consumir carne outra vez, e foi o que fizeram – e ainda abdicaram de outros alimentos e produtos de origem animal em menos de um ano. À época, chegaram a questionar a mãe sobre a razão de tê-los feito comer animais. Sem saber o que dizer, ela apenas chorou.

“Quando eu tinha idade suficiente para perceber que toda carne resultava de morte, eu a via como uma maneira irracional de usar nosso poder, dominar algo mais fraco e mutilá-lo. Era como os valentões subjugando os mais jovens no pátio da escola”, disse em entrevista para a reportagem “River Phoenix Ranks Acting Below Animal Rights and Music”, publicada pelo jornal New York Times em 5 de janeiro de 1989.

Em resposta à reação das pessoas em considerar o movimento em defesa dos direitos animais como extremo nos anos 1980, River declarou à revista The Animals Voice em 1989 que é preciso que exista um movimento extremo quando o que acontece com os animais no cotidiano é tão extremo.

“Há tanta coisa acontecendo neste mundo”

“Algumas pessoas mal informadas afirmam que os ativistas dos direitos animais são terroristas, mas essas pessoas ignoram quem são os verdadeiros terroristas – as empresas e indústrias que torturam literalmente bilhões de animais a cada ano”, enfatizou.

Em 1988, River Phoenix classificou o vegetarianismo como um elo que busca um aperfeiçoamento moral e a paz, um elo que faz a diferença ao mesmo tempo em que ele também já se preocupava com outras questões como apartheid, vivissecção, prisioneiros políticos e corrida armamentista.

“Há tanta coisa acontecendo neste mundo hoje, tanta ignorância entre as pessoas. Isso não quer dizer que eu não me preocupe com tudo. Mas a questão é: ‘O que podemos fazer agora?’ Essa é a coisa do vegetarianismo. É uma decisão de um indivíduo que o coloca em posição de controle. [Até porque sobre] quantas coisas realmente temos controle?”, declarou à Revista Vegetarian Times.

De acordo com a publicação, em 1988 completou dez anos que a família Phoenix abdicou de todos os produtos de origem animal. “Eles abraçam todas as razões possíveis para o veganismo. Eles amam animais e acreditam que não consumir leite [também] é melhor para a saúde. Eles acreditam que se afastar de uma cultura centrada na carne é a melhor forma de apoiar a ecologia mundial.”

E acrescenta: “Acima de tudo, eles veem o veganismo como um dos primeiros passos que as pessoas podem tomar para estarem conscientes de suas relações no mundo: relacionamentos com animais, pessoas e com o próprio planeta. Para a família Phoenix, o veganismo é um ingrediente essencial de um mundo amoroso e pacífico – uma extensão dos valores que motivaram John e Arlyn [pais de River, Joaquin, Rainbow, Summer e Liberty] quando os dois se conheceram.”

Em reportagem publicada em 2018 pela CR Fashion Book, Summer Lin lembrou do episódio em que o jovem ator comprou 800 acres de floresta tropical na fronteira da Costa Rica com o Panamá. Ele visava a preservação ambiental em uma área onde viviam espécies ameaçadas de extinção.

Amazônia e Chico Mendes 

No final da adolescência, o ator começou a usar seu prestígio para interceder pela Amazônia ao saber da morte de ambientalistas como Chico Mendes. Ele dizia que o impacto na Amazônia e em sua biodiversidade se estenderia por todo o planeta. “É um pensamento muito assustador e não está muito longe.”

Uma de suas mensagens mais famosas e normalmente celebradas no aniversário de sua morte, assim como publicada em inúmeros livros, é uma crítica ao capitalismo e a maneira como nos relacionamos em uma sociedade que personalidades e maneiras de viver são ditadas e moldadas pelo consumo.

“Somos ensinados a consumir. E é isso que fazemos. Mas se percebermos que realmente não há razão para consumir, que é apenas uma mentalidade, que é apenas um vício, não pisaríamos nas pessoas para subir a escada corporativa do sucesso.”

River Phoenix participou de diversas campanhas da organização Pessoas Pelo Tratamento Ético dos Animais (PETA) até 1993. Em uma delas, disponível no YouTube, enquanto faz carícias em um animal, ele diz o seguinte: “Se você se importa com os animais, tenho boas notícias, a PETA pode te mostrar um jeito fácil de ajudá-los.”

Entre as celebridades que conviveram com o ator há unanimidade em dizer que ele era um idealista que não se importava muito com a fama e usava sua influência para lutar por aquilo em que acreditava, e fazia isso na solene esperança de mudar a mente e os corações das pessoas.

“Quando eu estava na primeira série, eu costumava dizer às pessoas que queria mudar o mundo e elas pensavam: ‘Esse garoto é realmente estranho’.”

Saiba Mais

River Phoenix nasceu em Madras, no Oregon, em 23 de agosto de 1970, e faleceu em West Hollywood, na Califórnia, em 31 de outubro de 1993, supostamente em decorrência de overdose.

(Fotos: Getty)

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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