Um boi observava um peixe no riacho. Parado como estátua, não o vi mexer músculo. Parecia hipnotizado com a maneira como aquele animal movia-se na água.
Qual será sua impressão? Mas por que isso importa? Intrigante era estar ali e perceber como uma criatura assiste outra vida diferente da sua. Um foi trazido ao mundo pelo ser humano e o outro não.
Um poderia ir longe, desde que não houvesse má intervenção humana na natureza. O outro? Não. Apenas se fugisse, mas a cicatriz de produtificação no couro não dificultaria localização.
Logo atrás, um porco observava o boi que observava o peixe. Quem poderia dizer como chegou ali? Mas por que isso importa? Suas narinas estavam sujas de lama, com porção ressequida perto dos olhos.
Eram bem expressivos e compenetrados. Se estivéssemos no escuro e pudesse ver apenas olhos, não creio que eu diria de primeira que trata-se de um porco.
Mas por que não? Suínos são animais atentos, o que diz o contrário não é a realidade, e sim a irrealidade que vem do consumo e da descaracterização não humana.
O porco continuou no mesmo lugar e logo atrás vi uma galinha que observava o porco que observava o boi que observava o peixe. Ela ciscou e parou. O suíno nem se mexia e a galinha o assistia.
Talvez fossem as marcas e os riscos em suas costas que chamavam-lhe atenção, porque eram vermelhas e destacavam-se naquele pedaço de mata rasteira.
A galinha não tinha muitas penas e parecia, por consequência da imposição à vida, habituada aquela ausência que vem da força humana – o que não significa concordância. Por que significaria?
E quem estava atrás da galinha? Acho que não preciso dizer. Não sei por quanto tempo ficaram lá. Talvez para sempre, pela duração de suas vidas – ou não. Só pensei em como seria justa uma forma não religiosa de redenção.
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