Por que permitimos tanta violência na maternidade animal?

Fotos: Essere Animali

Se uma mãe, contra a sua vontade, é separada de um bebê, logo as pessoas olharão com tristeza para essa situação. Dificilmente alguém dirá que trata-se de algo justo, se não há nada sobre essa mãe que justifique a separação.

As pessoas se sensibilizam com a impossibilidade de uma mãe exercer a maternidade, assim como a de um bebê de crescer junto da mãe. Afinal, se um filho nasce, uma mãe tem o direito a prezar por esse vínculo, assim como o filho.

Entendemos isso como empatia porque admitimos que é uma situação em que alguém está sofrendo de forma desnecessária, imerecida. Então desejamos que seu sofrimento seja aliviado, que o laço não seja rompido ou que seja restabelecido.

Afinal, não gostamos da ideia de mães separadas de filhos no limiar da vida e como resultado de uma imposição, uma arbitrariedade. No entanto, essa empatia não é compartilhada com animais de outras espécies que têm o exercício da maternidade violado para fins econômicos e de consumo.

E não posso dizer que essa violação ocorre somente uma vez, não se pensamos, por exemplo, na condição de uma vaca, que tem sua capacidade materna condicionada à geração de leite enquanto produto, já que lactação é parte de um ciclo intrínseco à vida, à produção de um líquido que é alimento essencial à sua prole.

Sempre que vejo um bezerro sendo separado de uma vaca, logo penso nos laticínios disponíveis nos supermercados. E essa separação pode ter dois destinos, dependendo do contexto e do ritmo de produção.

Ou seja, o descarte de uma criança bovina até o segundo dia de vida ou a separação com fim de abate (para vitela) ao atingir 160 quilos ou antes de completar dez meses, que hoje também é um interesse ascendente na pecuária leiteira brasileira.

Enfim, o que a subjugação de animais a partir do nosso sistema alimentar deixa claro é que a vida dos animais não é uma prioridade, mas sim a reprodução de sua mecanicidade produtiva/espoliativa.

E na ausência ou ineficiência dessa, a vida de quem gera ou é gerado é um número a ser apagado e substituído por outro reconhecido como mais eficiente – até não ser.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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