Por que usar animais como entretenimento?

Por que usar animais como entretenimento? Como afirmar que este não é um uso desnecessário de animais? Quem defende a utilização de animais para tal fim sempre apela para a questão econômica, mas é justificável subjugar um animal para proporcionar entretenimento? Não há outras formas de entretenimento?

É comum a associação do uso de animais à tradição, mas tradições devem ser mantidas quando nocivas? Hoje, no Brasil, rodeios, vaquejadas e gineteadas são práticas que estão avançando na Câmara para serem reconhecidas como esporte.

O quanto é coerente elevar a esporte práticas impositivas? Ou é possível comprovar que um bovino, por exemplo, escolheu voluntariamente participar de um rodeio? Ele não foi condicionado e obrigado a isso? Esporte não é sobre participações voluntárias?

Defensores dessas práticas alegam que os animais não se machucam, embora isso seja impossível de garantir. Por outro lado, o único problema não é esse. Pense no estado de um animal diante de uma multidão, de um narrador, de som alto, de muitas luzes, de muita movimentação.

Não é novidade que animais como bovinos, por exemplo, têm sensibilidade auditiva superior à humana. Considere o impacto de um rodeio ou vaquejada no estado emocional deles. Como um animal com tal sensibilidade pode não sofrer com grande estresse e extremo desconforto?

Sofrimento não é apenas o que lacera nossa carne, mas também o que nos fustiga por um desejo de não estar ali, por uma prática que é o oposto do que queremos. Dizer que um animal salta com alguém sobre o seu lombo diante de uma plateia ou dá coices por prazer não faz o menor sentido.

Mortes em uma arena são consequências de uma prática que não tem nada de esportiva. O animal quer apenas livrar-se da situação – então ataca quem for necessário quando há oportunidade. Ou seja, é consequência do sentir-se ameaçado e não querer ser violado.

Esse uso arbitrário de animais persiste até hoje porque há quem lucre muito; e o lucro faz com que essas pessoas resistam para inviabilizar o fim dessas práticas – recorrem a falsas tradições, fantasias que pareçam verossímeis – tudo para fazer algo parecer tradicional sem ser.

O rodeio, por exemplo, não tem nada de brasileiro, já que é prática importada dos EUA. Ainda assim, a legislação brasileira, em contrassenso, admite o rodeio como “patrimônio cultural imaterial” desde 2019.

Claro, aqueles que têm poder econômico fortalecido por essas práticas colocam seus representantes na política. Isto quando esses representantes não são os próprios beneficiados; e pessoas que não se beneficiam com isso, mas não reconhecem o quanto o uso de animais como entretenimento é cruel e desnecessário, também contribuem porque não fazem oposição a esse tipo de realização.

Por outro lado, a cada ano me deparo com mais pessoas que não reconhecem o uso de animais como entretenimento como legal, e o rodeio está entre as práticas mais repudiadas. Porém, por que continuamos permitindo que políticos que criam projetos de lei visando fortalecer o uso de animais para entretenimento cheguem tão longe?

Não tenho dúvida de que os autores desses projetos chegaram onde chegaram com apoio de quem também pensa como eles. Mas e todos os outros deputados? Por que não representam os interesses de uma grande parte da população que é contra essas práticas? Será que têm medo da luta? Não são coniventes quando não se opõem claramente?

Vejo a luta pelos direitos animais crescendo em um país onde a política está na contramão dessa realidade. Nos últimos anos, pululam projetos de lei que prejudicam os animais e poucos estão sendo descartados como devem ser. Por que tantos parlamentares estão deixando os piores representantes da população dominarem as comissões da Câmara e do Senado?

Há muita defesa de coisas fáceis envolvendo animais (para ganhar votos), mas pouca luta em prol daquilo que realmente representaria uma mudança substancial. A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável não deveria ser controlada por deputados inimigos dos animais.

Fico surpreso também em reconhecer que alguns projetos contra o uso de animais como entretenimento apresentados na Câmara há mais de 50 anos ainda são questões que não foram levadas a sério.

Recuso-me a acreditar que dos mais de 150 milhões de eleitores brasileiros, não tenhamos uma maioria que seja pelo menos contra o uso de animais como entretenimento. E se temos, por que permitimos que esse interesse não seja tratado com seriedade?

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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