Por que você deveria assistir ao documentário “Não Matarás”

Mesmo com avanços nos últimos 15 anos, animais ainda são submetidos a experiências laboratoriais (Soko Tierschutz/Cruelty Free International/Shutterstock)

Por Júlia Carvalho

Os testes em animais, muitas vezes utilizados para que produtos como cosméticos e remédios cheguem ao mercado, estão sendo cada vez mais contestados. Esse é o tema do documentário “Não Matarás: Os Animais Nos Bastidores da Ciência”, de 65 minutos, que foi produzido em 2005 pelo Instituto Nina Rosa e reúne depoimentos de pessoas das mais diversas profissões: pesquisadoras, filósofas, biólogas, médicas, alunas e professoras de ciências médicas. É um filme bastante informativo e importante para conscientizar o público a respeito dos testes e, por extensão, a respeito da ética vegana.

O documentário é dividido em duas partes: o uso de animais no ensino e o uso de animais na pesquisa. A primeira parte mostra que os animais não-humanos são utilizados em faculdades de biologia, veterinária, medicina e ciências biológicas no geral para demonstrar determinados conhecimentos. Eles são cortados vivos e sacrificados ao final do procedimento, uma demonstração que é desnecessária e que poderia ser substituída por vídeos e simulações 3D, dentre outros recursos audiovisuais, que seriam mais eficientes para ilustrar tais conhecimentos.

A segunda parte mostra os testes que estão por trás de produtos que utilizamos no dia a dia, como cosméticos, produtos de limpeza, medicamentos e até mesmo conservantes presentes nos alimentos, e como estes testes são dolorosos e degradantes para os animais. Mostra ainda que existe um sistema que lucra com esse tipo de experimentação, e que muitas vezes, os resultados dos testes não são aplicáveis ao ser humano.

É um documentário informativo, já que mostra o que são as práticas de vivissecção e como são realizados os testes em animais, informações que os laboratórios e faculdades não têm interesse em veicular e que assim, não são geralmente de conhecimento do público. Os depoimentos mostrados no documentário foram bem escolhidos, já que todos ajudam a expor o posicionamento ético da produção audiovisual. Destaco o depoimento do biólogo e professor da UNIFAL-MG Thales Tréz, que entende que o uso de animais no ensino resulta na dessensibilização dos estudantes diante da dor desses seres e na transmissão de valores antropocêntricos.

Também foi importante a fala de David Cantor, diretor da instituição RPA (Políticas Responsáveis para os Animais, na sigla em inglês), que expõe que os animais são tratados como objeto nos laboratórios e que tem um posicionamento que me lembrou a visão do professor de direito Gary Francione. Ressalto também os depoimentos de uma estudante e de um professor do departamento de veterinária da USP, que refletem o posicionamento de que uma profissão que deveria zelar pela vida dos animais não pode permitir que eles sejam cortados vivos dessa forma.

A montagem e o uso da trilha sonora são pontos a se destacar nesse documentário. Um bom uso da trilha sonora foi feito durante o depoimento da estudante de psicologia, Thais Domingues, que desenvolveu uma relação amigável com os ratos de laboratório pelos quais é responsável. Nessa parte, há uma trilha sonora agradável, ao mesmo tempo que a estudante aparece fazendo carinho nos roedores e afirmando que eles têm uma individualidade.

A montagem do documentário é interessante, com o depoimento de Nina Rosa, ativista e presidente do instituto Nina Rosa, no início e no fim, a qual convoca as pessoas a mudar essa realidade. Senti-me um pouco alarmada com a informação de que todos os componentes de um produto seriam testados em animais, e que inclusive conservantes de alimentos são testados, informação em que pode haver algum exagero, porém, é fato que é necessário prestar atenção no que consumimos.

Não matarás é um documentário que faz um bom trabalho em conscientizar o público a respeito da experimentação animal; eu o recomendo à pessoa ativista do veganismo que quer entender mais sobre a importância de se boicotar os testes. É também uma produção que mostra o fundamento ético do veganismo, já que, ao assisti-la, fica a mensagem de que os testes em animais são uma forma de exploração, semelhante a outros tipos de exploração, e que é necessário lutar por uma sociedade em que os animais não-humanos sejam livres.

Resenha de autoria de Júlia Carvalho, voluntária da Frente de Ações pela Libertação Animal (FALA)

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *