Pra onde vão os porcos quando sonham?

Viu quando um caminhão parou e os porcos começaram a descer sem querer. Achou estranha a maneira como eram tratados, empurrados para dentro de uma enorme estrutura de concreto. Assistindo reações, não parecia bom destino.

Dois homens pediram que se afastasse. “Cadê seu pai ou sua mãe? Aqui não é lugar pra criança.” Apontou para a esquina e disse que é onde mora sua avó – na última casa de um antigo bairro residencial transformado em área industrial.

“Pra onde eles vão?” Como é lá dentro?” “Eles parecem tristes.” “Por que vocês empurram?” “Se eles não querem ir, é certo forçar?” Não recebeu resposta. Também ignoraram seu olhar.

Quis chegar mais perto, mas desistiu, preocupada que a mandassem embora ou a tirassem dali. “Eles não voltam mais, né?” “Não desse jeito.” Foi a única resposta que ouviu.

Logo viu desaparecer o último sinal do que um dia foi um rabinho – era o último porco atrás de uma longa fileira de pés e dorsos marcados com números.

Olhou a carroceria vazia e voltou os olhos para a entrada, de onde tudo se distanciava do seu campo de visão, a partir de conveniente forma de escuridão.

Lembrou do porquinho que viu sonhando numa tarde sobre uma porção de capim. A barriga dele tremia na sombra e a expressão não era de incômodo, o que estimulava curiosidade.

“Onde será que ele está? O que será que sente e vê quando sonha?” Imaginou algo bonito, divertido, que o deixasse feliz, mais do que ela ao vê-lo. “Pra onde vão os porcos quando sonham?”, começou a pensar com frequência.

De repente, ouviu sons que não faziam parte do mundo do porquinho sobre o capim e teve a impressão de ouvir porcos chorarem. Ela chorou quando percebeu que a maioria dos porcos não pode sonhar.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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