Preocupar-se com os animais não é tão relevante?

Preocupar-se com os animais não humanos não é tão relevante? O fato de existir um sistema alimentar que supervaloriza a proteína animal e, com isso, mata dezenas de bilhões de animais por ano (citando “apenas” a pecuária) não deveria instigar ponderações?

É justificável a recusa em racionalizar o impacto da matança de tantos animais? Isso que podemos chamar de “não racionalização” é favorecido pela descrença envolvendo responsabilidade individual, porque muitas pessoas creem ou esforçam-se em crer que não contribuem com esse sistema.

É como se fosse um sistema à parte, dissociável de seu consumo – e sobre isso é reducente e limitante pensar somente no consumo de carne, já que a matança é consequencial em relação a toda a cadeia de produção de proteína animal. Há uma crença de que a culpa dilui-se numa dimensão inalcançável e indefinível de coletividade, e nisso surge a conclusão de que “sou apenas um”.

Mas é exatamente essa crença que garante a manutenção desse sistema, e que pode piorar a realidade dos animais no planeta e, por consequência, ampliar consequências ambientais, por fator lógico de associação com maior uso/demanda de recursos naturais, e assim também atingir todos nós.

Quem não se importa com os animais subjugados nas cadeias de consumo também ignora que as consequências ambientais da grande produção de proteína animal afetam em primeiro lugar as populações mais vulneráveis e que vivem em regiões que sofrem e sofrerão antes de todos os outros (com exceção dos animais que são as vítimas primeiras) as consequências dessas práticas.

É importante sair do nosso lugar e entender que não é apenas a dimensão do “local” que gera efeito em nossas vidas – na realidade, isso ocorre cada vez menos. A tendência é que os impactos do “não local”, que atingem a multiplicidade do “local”, tenderão a acentuar-se mais como efeito de nossas negligências.

Se alguém acha que isso é bobagem, então talvez esse alguém não faça suas compras que incluem proteína animal em um mercado ou não entre em açougues. Mas se sim, então nada do que eu disse está deslocado de sentido.

Enfim, não existe consumo consciente quando contribuímos com o que existe de mais nocivo no nosso sistema alimentar – que é a dominante produção de proteína animal.

 

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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