Prince: “Nós não comemos nada que tenha pais”

“Nós não temos que matar para sobreviver. Na verdade, acontece o oposto disso. Se você mata, você morre” (Fotos: Getty/iStock)

Em outubro de 1997, o cantor Prince, um dos maiores nomes da música pop, deu uma entrevista à revista Vegetarian Times contando que há dez anos ele tinha parado de consumir carne e que seu próximo passo era abandonar outros alimentos e produtos de origem animal. “Nós não comemos nada que tenha pais”, disse. Ao falar “nós”, ele incluiu Mayte Garcia, com quem teve um casamento que durou quatro anos. Ela foi a responsável por apresentá-lo ao vegetarianismo.

“Sempre tive preferência por coisas vegetarianas e recentemente descobri como são boas em um sentido físico. […] De qualquer maneira, nunca fui um grande consumidor de leite, mas realmente gosto de leite de soja sabor baunilha”, contou. A identificação com o vegetarianismo motivou Prince a tornar-se um ativista e colaborador de organizações em defesa dos direitos animais.

Em 1998, inspirado por já ter participado de algumas ações em oposição à exploração animal, ele compôs a música “Animal Kingdom”, que antes de ser lançada oficialmente foi enviada à organização Pessoas Pelo Tratamento Ético dos Animais (PETA) para ser usada em campanhas a favor dos animais. Prince defendia que os animais têm direito à vida, seus próprios propósitos e não existem ou pelo menos não deveriam existir para nos servir.

Na letra, ele fala que nenhum membro do reino animal fez qualquer coisa contra ele, e que não há motivo para ele consumir carnes (incluindo peixe) e laticínios. “Não me dê queijo azul, todos somos membros do reino animal, deixe seus irmãos e irmãs no oceano”, pede. A música também faz referência a uma discussão que Prince teve com o cineasta Spike Lee sobre o consumo de leite.

“Não temos que matar para sobreviver”

“Realmente gosto de comer mais agora. Tenho mais energia e, acima de tudo, minha aura está mais forte. Pode-se realmente sentir sua dívida cármica diminuir em cada refeição”, revelou à revista Vegetarian Times em entrevista publicada em 1º de outubro de 1997. No disco “Rave Un2 the Joy Fantastic”, lançado em 1999, surgiu uma polêmica porque Prince aparece na capa usando uma jaqueta que muitos pensaram que fosse de lã, mas era de material sintético.

“Se esta jaqueta fosse realmente de lã, eu teria levado a vida de sete cordeiros cujas vidas começaram assim. Em poucas semanas após seu nascimento, suas orelhas teriam sido perfuradas, seus rabos cortados e os machos castrados enquanto estavam completamente conscientes. Taxas extremamente elevadas são consideradas normais [nessa indústria]. 40% dos cordeiros morrem com oito semanas de idade – oito milhões morrem todos os anos em decorrência de doenças e negligência”, avisou no encarte do CD, visando conscientizar os fãs sobre as implicações do consumo de produtos baseados em peles de animais.

Prince costumava dizer que dos dez mandamentos o mais importante que o ser humano deveria seguir é “Não Matarás”, o que, no seu entendimento, não significava apenas não matar pessoas, mas também animais. “Nós não temos que matar para sobreviver. Na verdade, acontece o oposto disso. Se você mata, você morre”, enfatizou em entrevista a Catherine Censor Shemo, da Vegetarian Times.

Quando Catherine perguntou-lhe se as pessoas não o julgavam, achando que ele estava mais preocupado com os animais do que com o sofrimento humano, Prince respondeu: “A compaixão é uma palavra de ação sem fronteiras. Nunca é demais. Comer um tomate e replantá-lo para a sua nutrição, em vez de matar uma vaca ou um porco para se alimentar, reduz a quantidade de sofrimento no mundo. Além disso, os porcos são bonitos demais para morrer.”

“Precisamos de um Dia dos Direitos Animais”

Em um de seus shows em Washington, D.C., um fã tentou dar ao cantor um casaco de couro. Quando ele viu do que era feito, o advertiu: “Por favor, não mate uma vaca para que eu possa usar um casaco.” Muitas vezes, Prince foi apontado como vegano, inclusive em uma entrevista publicada na Vegetarian Times em 1997. Ele mesmo apresentou-se dessa forma.

Porém, em outra entrevista, concedida ao Lopez Tonight, estrelado por George Lopez, Prince explicou em 2011 que ele era vegetariano, não vegano. Independente disso, a contribuição do cantor à conscientização em torno dos direitos animais é inquestionável. Há muito tempo, ele chegou a declarar que era preciso instituir um Dia dos Direitos Animais: “Não fazer nada sobre isso [direitos animais] é tolice. Temos feriados para presidentes que defendiam tudo menos a liberdade da alma. Precisamos de um Dia dos Direitos Animais em que todos os matadouros sejam fechados e que as pessoas não comam nada que não possam substituir. Yeah!”

Questionado se ele não tinha receio de parecer proselitista aos olhos dos fãs ao posicionar-se a favor do vegetarianismo ético, Prince explicou a Catherine que ele não tinha fãs, mas sim amigos. “Meus amigos são indivíduos muito avançados. Não sei quantos deles comem carne, mas logo eles saberão as consequências desse estilo de vida. Chama-se carma! Minha música é ditada pelo espírito. Não me preocupar com a reação das pessoas é o que tem me dado sustentação”, afirmou.

Saiba Mais

Prince nasceu em Minneapolis em 7 de junho de 1958 e faleceu em 21 de abril de 2016 em decorrência de uma overdose de fentanil, um forte analgésico.

Ao longo da carreira, o músico, que lançou mais de 35 discos e flertava com vários gêneros musicais, teve como maior registro de sucesso o álbum “Purple Rain”, de 1984, e que inspirou a produção de um filme homônimo. O disco é considerado um dos maiores lançamentos da história da música pop.

Entre seus alimentos preferidos estavam homus, pita e chips de vegetais.

Referências

https://www.bustle.com/articles/156336-was-prince-a-vegan-he-upheld-his-beliefs-throughout-his-life

http://www.today.com/food/stage-prince-was-passionate-quirky-food-lover-too-t87881

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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