Que impressão temos de animais em matadouros?

Foto: We Animals

Conversavam sobre impressões e expressões de animais em matadouros. “O que vi? Apreensão, terror, medo, desespero e creio que tristeza, sim, talvez tristeza, embora possa ser outra coisa, mas não diria que menos digna de pesar. Afinal, falo de emoções incômodas, manifestações de reprovação. Nós não as compartilhamos? Quando tão óbvias, associamos com situações que não desejamos. Afinal, remete também aos nossos sentimentos diante de condições impostas.”

“Mas e se um animal não manifesta nada disso ou que nós interpretamos assim? Por exemplo, julgamos não transmitir emoção ou sentimento que logo associamos com a urgência da compaixão ou de consideração? Seria ele menos digno de não estar ali, menos merecedor de nossa oposição?”

“Não, mas o que dizer sobre os olhos que não são meus nem seus? Um animal que numa situação de morte não incite nada que muitos reconheçam como negativo, ou que associem a sofrimento, tende a ter sua condição subestimada por efeito do condicionamento, dele e do nosso, que estão interligados por imposição e aceitação. De qualquer forma, não podemos dizer que os olhos de um animal são os olhos de outro em experiência análoga, e porque é única para cada um, que dela não retorna.”

“Quem pode dizer que não é mais fácil sensibilizar-se com o animal que externaliza de forma mais evidente sua miséria? Já aquele que não faz isso, independente de sofrimento, traumas, conforme entendimento conveniente ou inconveniente dos outros, que são humanos, será o filho ideal duma dissimulação, e dirão que este nunca sofre, como se capazes fossem de anular sua dor ou de pelo menos medi-la.”

“Mas quem gostaria de medi-la? A mim, basta saber que um animal é explorado, violado ou morto para admitir que isso não posso endossar. Se dizem que um animal sente prazer em ser seviciado ou sorri no matadouro, devo dizer que sim, isso é possível? Que levem mais animais para o abate? O que importa é a capacidade de sentir. A maneira como um animal manifesta isso diante do fim não é mais importante do que o seu fim, e porque não é fator de determinação.”

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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