Relatório expõe piores impactos da pecuária na saúde

“A gripe suína e aviária são apenas dois exemplos de doenças que tiveram origem em fazendas industriais intensivas e causaram impactos devastadores na saúde humana” (Foto: Jo-Anne McArthur/We Animals)

Na semana passada, a organização Proteção Animal Mundial publicou um relatório de 78 páginas que expõe os impactos da pecuária industrial para a saúde, e acusa governos de ignorarem esses perigos e o sofrimento de bilhões de animais.

“Um pequeno grupo de empresas multinacionais está consolidando sua concentração do sistema global de alimentos industriais, uma vez que a demanda por carne continua crescendo, e os governos fecham os olhos ou, em alguns casos, apoiam e promovem a destruição”, acusa a entidade no documento.

“A gripe suína e aviária são apenas dois exemplos de doenças que tiveram origem em fazendas industriais intensivas e causaram impactos devastadores na saúde humana. Estamos vivendo a pior pandemia dos últimos 100 anos, mas o pior ainda está por vir, com os habitats da vida selvagem sendo derrubados para abrir espaço para a pecuária, causando risco de propagação de doenças entre animais silvestres e de produção, e deles para os seres humanos”, avalia.

Em relação ao Brasil, a situação é classificada como alarmante porque tudo indica que o consumo de carne crescerá pelo menos 12% na América Latina até 2030.

“A pecuária industrial intensiva está nos deixando doentes. Ainda que a percepção de preço varie subjetivamente, a indústria busca produzir carne, peixe e laticínios pelo menor custo possível. Mas para isso exclui do preço ao consumidor final custos pelos quais deveria se responsabilizar, como os referentes aos danos ambientais diretos e indiretos, à baixa qualidade nutricional de alimentos processados, aos riscos sanitários, aos problemas trabalhistas, entre outros”, comenta José Ciocca, da Proteção Animal Mundial.

No relatório, a organização lamenta que a crescente demanda coloque bilhões de animais estressados, mutilados e confinados em ambientes estéreis por toda a vida. “Mais de 70% dos 80 bilhões de animais terrestres criados globalmente são mantidos e abatidos em sistemas cruéis de criação industrial a cada ano”, critica.

O documento também cita os impactos na saúde física e mental dos trabalhadores, incluindo más condições nas instalações de abate, processamento e embalagem de carne, lesões físicas e problemas de saúde psicossocial e mental.

“Precisamos quebrar o ciclo de sofrimento do nosso sistema alimentar. O apoio do governo à carne barata está se equiparando a mais animais sendo abatidos em fazendas industriais intensivas. Agora é a hora dos líderes se concentrarem em melhores resultados de saúde para as pessoas, os animais e o planeta”, afirma Jacqueline Mills, Head de Campanha de Animais de Fazenda na Proteção Animal Mundial.

Entre as mudanças sugeridas no relatório estão a reorientação de subsídios da pecuária industrial intensiva para práticas humanas e sustentáveis; apoio a esforços para reduzir significativamente a produção e o consumo de carne e laticínios em países com alta média de consumo por pessoa; melhorar a acessibilidade dos alimentos à base de plantas; e fornecer apoio à transição aos agricultores que não desejam mais se envolver com o sistema industrial intensivo.

Segundo a Proteção Animal Mundial, a indústria de alimentos precisa abraçar um futuro sustentável, voltado às dietas predominantemente à base de vegetais.

“A Organização Mundial de Saúde adverte que estamos enfrentando uma crise sanitária de bactérias multirresistentes. A pecuária industrial intensiva é a principal responsável por isso, já que os animais de produção são tratados indiscriminadamente com antibióticos para sustentar um sistema cruel, criando bactérias multirresistentes que saltam para os humanos e se tornam mortais.”

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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