Segundo OC, desmatamento recorde em outubro desmonta greenwash do Brasil na COP26

(Foto: Victor Moriyama/Amazônia em Chamas)

A área de alertas de desmatamento em outubro foi a maior para o mês em cinco anos, mostram dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados na sexta-feira (12), que foi o último dia da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26).

Segundo o sistema Deter, 877 km2 de floresta tombaram na Amazônia, um aumento de 5% em relação a outubro de 2020. É o recorde de outubro na série histórica iniciada em 2016.

“Mantivemos o mesmo patamar alto de desmatamento na Amazônia neste outubro, mesmo com mais chuvas do que era esperado por causa do fenômeno La Niña. Isso demonstra claramente que as ações atuais do governo não têm efeito prático no chão”, diz Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

“Nas últimas duas semanas, vimos o governo brasileiro dizer na COP26 que tem o desmatamento sob controle. Mas o Brasil real é o que os satélites mostram. Para cumprir as promessas feitas na Conferência do Clima, o governo precisa fazer mais do que fala. É possível mudar o quadro, mas é preciso agir imediatamente.”

O Observatório do Clima diz que o dado do Deter é um lembrete de que o Brasil que circulou pelos corredores e pelas salas da COP26, em Glasgow, é o mesmo que permite que grileiros, madeireiros ilegais e garimpeiros destruam a floresta. A entidade cita que o governo ainda não divulgou o Prodes neste ano — o dado oficial do desmatamento, também medido pelo Inpe, que costuma estar disponível no começo de novembro.

“Governo não tem intenção de cumprir compromissos”

“Na conferência do clima, o governo de Jair Bolsonaro vem tentando apresentar uma imagem de país preocupado com a crise climática: sob pressão internacional, assinou acordos multilaterais contra o desmatamento e as emissões de metano, vem deixando seus diplomatas trabalharem de forma construtiva na negociação e montou um esquema gigantesco de propaganda com ajuda dos lobbies do agro e da indústria”, aponta o OC.

A entidade acusa o governo de desmontar as políticas de combate ao desmatamento e de gastar centenas de milhões de reais em operações militares inócuas, além de ser responsável por ao menos cinco projetos de lei que anistiam o roubo de terras, acabam com o licenciamento ambiental e ameaçam as terras indígenas, barreiras mais eficazes contra a devastação.

“As emissões acontecem no chão da floresta, não nas plenárias de Glasgow”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “E o chão da floresta está nos dizendo que este governo não tem a menor intenção de cumprir os compromissos que assinou na COP26.”

Sobre o Observatório do Clima – Fundado em 2002, é a principal rede da sociedade civil brasileira sobre a agenda climática, com 70 organizações integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais. Segundo a entidade, seu objetivo é ajudar a construir um Brasil descarbonizado, igualitário, próspero e sustentável, na luta contra a crise climática. Desde 2013, o OC publica o SEEG, a estimativa anual das emissões de gases de efeito estufa do Brasil.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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