Bacalhau, mais uma tradicional vítima na ceia de Natal

Assim como outros peixes, o bacalhau agoniza fora da água e morre asfixiado (Fotos: Shutterstock/iStock)

Outro animal que costuma compor a ceia de Natal é o bacalhau, que por ser um peixe é subestimado enquanto ser senciente. Afinal, será que ele sofre antes de morrer? Sim, assim como outros peixes, o bacalhau agoniza fora da água e morre asfixiado. Claro, luta pela vida o máximo que pode, assim como faríamos na iminência da morte.

A espécie mais tradicional identificada como bacalhau, o bacalhau-do-atlântico ou gadus morhua, tem uma expectativa de vida de 25 anos. Porém, em consequência da intervenção humana, dificilmente ele passa dos primeiros anos de vida. Depois de capturado ou criado em cativeiro, se estiver dentro do peso almejado, é degolado e tem sua barriga aberta. Após a retirada das vísceras e guelras, o animal é decapitado.

Então o abrem ao meio, retiram parte da espinha dorsal, o lavam e o cobrem com sal antes de expô-lo ao sol. Depois de passar por uma desidratação de mais de 50%, o peixe é comercializado e consumido. Além disso, os animais que os consumidores compram como bacalhau, retirados da natureza e criados em cativeiro para o abate, costumam ser alimentados também com farináceos de outros animais – incluindo espécies aquáticas capturadas na natureza.

Embora cientistas não possam dar uma resposta definitiva sobre os níveis de consciência dos peixes, tudo indica que, além da senciência semelhante à dos mamíferos, eles têm uma singular sofisticação comportamental e cognitiva.

Mas são informações pouco divulgadas e, por costume, ignoradas. O bacalhau costuma ser visto apenas como uma “iguaria” a ser servida frita, assada, cozida ou grelhada, e sem qualquer enfática associação com um animal. A maior prova disso é que a maioria das pessoas que consome o bacalhau não sabe citar quais espécies marinhas que deram-lhe origem.

Populações sendo prejudicadas 

A maioria também desconhece que o gadus morhua, o melanogrammus, o micromesistius e o pollachius, espécies identificadas como “bacalhau”, estão na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). Ou seja, consumir bacalhau é também uma forma de aproximar essas espécies da extinção.

Isso não é fato recente. Segundo a revista científica The Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, as populações de bacalhau começaram a entrar em colapso na década de 1990. Há muito tempo, o bacalhau é capturado e condicionado a viver em cativeiro por até dois anos, ou seja, distante do seu habitat, apenas engordando até o momento do abate.

No artigo “Fish Intelligence, Sentience and Ethics”, publicado na revista Animal Cognition, o professor Cullum Brown, do Departamento de Ciências Biológicas da Macquarie University, em Sydney, na Austrália, explicou que peixes têm suas próprias tradições, inteligência sofisticada e capacidade de cooperação e reconciliação, além de facilidade em reconhecer uns aos outros.

“O nível de complexidade mental deles está no mesmo nível de outros vertebrados, e há evidências de que eles podem sentir dor de maneira semelhante aos seres humanos”, registrou. Será que não deveríamos incluí-los no nosso círculo moral? Ou seja, não faltam motivos para reconhecer que peixes também têm direito à vida e não devem ser reduzidos a alimentos.

Gosta do trabalho da Vegazeta? Colabore realizando uma doação de qualquer valor clicando no botão abaixo: 




Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *