Série da Globo vincula desmatamento da Amazônia à mineração, mas não à agropecuária

Aruanas investiga as atividades da mineradora KM, na cidade fictícia de Cari, na região amazônica, onde pessoas estão misteriosamente adoecendo (Foto: GloboPlay/Divulgação)

No dia 3 de julho, a TV Globo estreia a série de suspense ambiental “Aruanas”, que conta a história de quatro mulheres lutando para proteger a floresta amazônica.

É inegável que a série deve cumprir um papel de conscientização em relação às consequências do impacto da exploração de minério, que envolvem desde questões econômicas até ambientais e sociais.

Porém, pelo menos em relação ao que foi divulgado até agora sobre a série, “Aruanas” não deve vincular o desmatamento da Amazônia à agropecuária, que segundo a organização Forest Trends é responsável por 90% da derrubada ilegal de floresta entre 2000 e 2012.

O documentário “Sob a Pata do Boi” informa que na década de 1970 a floresta estava intacta e a quantidade de gado equivalia a um décimo do rebanho da atualidade. Hoje encontramos uma área que pode ser comparada à extensão territorial da França desmatada. Desse total, 66% transformada em pasto.

O Greenpeace aponta que a pecuária na Amazônia brasileira é responsável pela destruição de um em cada oito hectares. A Fundação Joaquim Nabuco afirma que a pecuária é responsável por 65% do desmatamento. Já a FAO informa que 80% do desflorestamento da Amazônia foi provocado pela conversão de terras em pastos e produção de grãos destinados à alimentação de animais criados para consumo.

Mesmo que seja importante abordar os impactos da atividade mineradora, ainda que um volume cada vez mais crescente da população esteja mais atenta às consequências disso considerando o que aconteceu nos últimos anos em Minas Gerais, é um fato que o número de pessoas que desconhece o impacto da agropecuária nos biomas brasileiros é muito maior.

Até o início desta década, ativistas como José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo desempenhavam um trabalho diário em defesa da floresta tropical amazônica, denunciando o desmatamento e a compra ilegal de terras.

Em 24 de maio de 2011, o casal foi morto a tiros dentro do Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, onde viviam. O crime foi cometido por Lindonjonson Silva Rocha e Alberto Nascimento.

O primeiro é irmão do pecuarista José Rodrigues Moreira, mandante do crime. Sobre a tragédia, a polícia descobriu que o fazendeiro foi denunciado por compra ilegal de lotes de terras do projeto agroextrativista. Também foram encontrados indícios de um consórcio envolvendo pecuaristas de Nova Ipixuna, que visavam grilagem e reconcentração de terras na região.

Quando o assunto é a Amazônia, realmente não dá pra ignorar o impacto da agropecuária e a sua associação, a partir da formação irregular de grandes propriedades, com o desmatamento e o desencadeamento de episódios de violência.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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