Somos estranhos na nossa relação com outras espécies

A ideia da inferiorização do que é diferente há muito embruteceu o ser humano (Arte: Hartmut Kiewert)

Somos estranhos na nossa relação com outras espécies. Confinamos os nossos quando são condenados por crimes. Ao mesmo tempo, encarceramos outras espécies, que jamais nos causaram qualquer mal, apenas porque, ao nos considerarmos superiores, nos colocamos em posição de subjugar aqueles que não partilham das nossas habilidades e do mesmo código comunicativo que nós; e os submetemos à servidão que finda com a morte.

A ideia da inferiorização do que é diferente há muito embruteceu o ser humano. Mesmo hoje, quando o pretexto de suplantar o outro é mais desnecessário do que nunca, até mesmo aqueles que gozam de determinadas habilidades intelectuais defendem tal prática. Mas por que as coisas são assim?

Porque muitos não reconhecem ou preferem não reconhecer que o que fazem nada mais é do que perpetuar hábitos substituíveis e vícios do paladar perpetuados por gerações, ou que se desenvolvem a partir dos nossos pontos de vulnerabilidade. Sim, porque se digo que sou incapaz de abster-me do consumo de animais, por exemplo, sou, sem dúvida, inábil em controlar minhas vontades – o que é uma axiomática fraqueza.

Uma cegueira viciosa e deleitável

O ser humano, quando é dominado por algo, sofre de um tipo de cegueira, mas é uma cegueira viciosa e deleitável que suprime as possibilidades de ser vista como algo problemático – o que exige reflexão e reavaliação sobre quem somos, quem são os outros e o que fazemos. O prazer que muitos humanos têm com a reafirmação da ideia da superioridade e seus desejos a partir da morte de outras criaturas também são um endosso comum desse hábito.

Há algo de altaneiro, e não no bom sentido, no ser humano que, desconsiderando as implicações de suas escolhas para as vítimas, busca pretextos para justificar o consumo de animais. A verdade é muito simples – se há vida saudável sem morte, a matança é sempre injustificada. Afinal, todo alimento proveniente de privação, sofrimento e morte é resultado de nossas escolhas ou do condicionamento destas escolhas; sejam culturais ou não, cônscias ou não.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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