Tom Regan: Comer carne é encorajar a matança de animais

“Como é que o senhor pode reunir ativistas antiguerra na sua casa e servir-lhes uma vítima de outro tipo de guerra?” (Acervo: Regan Animals Voice)

Fora seu pacifismo, Gandhi me fazia um desafio novo, que falava diretamente aos hábitos da minha vida. Embora escrevesse para todo e qualquer leitor, ele parecia estar falando pessoalmente comigo. Era como se ele quisesse saber como eu, Tom Regan, podia ser contra a violência desnecessária, como a da Guerra do Vietnã, quando os seres humanos são as vítimas, mas apoiar este mesmo tipo de violência (violência desnecessária) quando as vítimas são os animais.

“Por favor, me explique, professor Regan”, a voz de Gandhi pedia, da página, “o que aquelas partes de corpos mortos (isto é, ‘pedaços de carne’) estão fazendo no seu freezer? Por favor, explique, professor, como é que o senhor pode reunir ativistas antiguerra na sua casa e servir-lhes uma vítima de outro tipo de guerra, a guerra não declarada que os humanos estão empreendendo contra os animais?” Não tenho certeza, mas tive a impressão de detectar um sorriso furtivo e sarcástico no rosto de Mahatma.

Claro que Gandhi estava certo sobre algumas coisas. Comer animais, comer a sua carne, como eu fazia, certamente encorajava o seu abate, um modo verdadeiramente horrível e violento de morrer, algo que mais tarde eu acabaria conhecendo de perto, quando, mesmo sentindo uma forte aversão ao que estava fazendo, vi porcos, galinhas e vacas encontrarem seu fim sangrento.

Páginas 48 e 49 de Empty Cages (Jaulas Vazias), de Tom Regan. Falecido em 2017, Regan foi professor de filosofia da Universidade Estadual da Carolina do Norte, onde lecionou por 34 anos. Em 2006, Empty Cages foi publicado no Brasil pela Editora Lugano.

Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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