Um ano de idade, mas não tem nome. Apontam o dedo e falam: “É novilho super precoce. Tem outros com ele. É pra agora.” Um vai na frente, outro não. Fila não anda. Irritação. Estresse. Medo. Fome.
Puxando também não vai. “E de choque?” “Vamo vê!” “Vai pela dor” Vai mesmo. Por onde entrar? Não sabe ou sabe e resiste, mas o choque corrige o caminho. “Se errar, a gente conserta.” Desamor? Sabe-se lá.
Trilha sonora é um mugido retraído, estranho, como perdido. Cada um tem seu jeito. Olho combinando e descombinando. Se dói mais nesse do que naquele ninguém sabe. “A gente num tem medidor de dor.”
O bicho passa, com olho de criança. Se não brincou, não brinca mais. “Cresceu só por fora.” Parece até que tem outro ali dentro, tão delicado que cabe na palma da mão.
Vem barulho de cima. Banho de aspersão. Todo mundo junto, calor de um, calor de outro. Água lava o couro, desce pelo doído do choque. Só arrasta o que é superficial.
Seria bom encolher, virar líquido e escorrer até desaparecer. Chamo de sonho bovino numa mente humana. Esfola higiênica termina, o couro seca. Hora da separação. Despedida. É agora que esfria.
Não quer sair, mas vai sair. Outro choque, outro guia. Tem medo. Barulho estranho, desconhecido – tudo é desconhecido. Entra no box, levanta a cabeça e abaixa. Faz de novo.
Outro barulho, outro susto. Alguém se aproxima, nunca viu, não diz nada. Tecnologia, paredes móveis. Fica preso. Desespero, estresse, ansiedade, terror, tudo se misturando, o que é o quê, o que não é o quê.
Quem quer ceder? Disparo no crânio e as paredes se movem outra vez, vão abrindo e o novilho caindo. Tudo se abre, menos a vida, arrastada, pendurada e violada, até não ser.
Deve ser estranho morrer no começo. Tudo acabando, sem querer, sem entender. Morrer com um não é como morrer com 15, imagine com 20. Só 5 ou 6,7% da vida.
