Passando por uma estrada de terra ouviu som estranho e quis ver de perto o que acontecia. Sem pensar em risco, atravessou a mangueira e foi até um barracão de concreto sujo.
Por motivo desconhecido, não estava fechado e encontrou leitõezinhos guinchando num canto. Havia uma porca que não se mexia, e eles, famintos, brigavam para tentar mamar na mãe já sem vida.
Pensou em ir embora, mas não conseguiu. Tinha espaço no pequeno caminhão. “Por que não?” Olhou em volta e parecia não haver ninguém por perto. “Se tiver, já é tarde demais.” Buscou o veículo, encostou atrás do barracão e pegou os leitõezinhos.
“Se deixar aqui, vão morrer logo. Quem garante que não?” Colocou os seis na carroceria e foi embora. Tozu vivia em uma chácara, mas não criava animais. Lembrou de uma porca no sítio vizinho em fase de lactação que teve só filhotes natimortos.
Explicou a situação e o vizinho deixou levar a porca, pelo menos até decidir o que fazer com os leitõezinhos. No dia seguinte, a polícia prendeu Tozu por suspeita de abigeato.
Na delegacia relatou tudo que aconteceu e começaram a rir. “Então quer dizer que o senhor pegou seis leitões pra salvar a vida deles? Tá bom…tá bom. Vamos acreditar nisso.”
O delegado disse que aqueles porcos eram propriedade de alguém e que se apropriar do que pertence a alguém é crime e, no caso dele, de até cinco anos de cadeia.
Tozu reagiu. “Propriedade? Uma vida não é uma propriedade. A lei está errada. Uma propriedade geme? Guincha? Uma propriedade tenta mamar? Uma propriedade sente dor, medo ou fome?”
Inspirou, expirou e continuou: “A mãe estava morta, e o senhor pode confirmar se quiser, mas não me diga que uma vida é uma propriedade – propriedade é a cadeira em que o senhor está sentado, se produzida de forma legal.”
“O senhor se acalme”, advertiu o delegado. Houve silêncio na sala e o proprietário do barracão invadido por Tozu chegou. Olhou pra ele sem dizer nada e pediu para falar em particular com o delegado. Não tinha intenção em acusá-lo de abigeato – o barracão era ilegal. Tozu foi liberado, sem obrigado nem nada. Mas sentia-se grato porque o nada ali era algo fora dali.
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