Um caso estranho de frango que não queria morrer

(Foto: Andrew Skowron)

“É um caso estranho de frango que não queria morrer”, disseram. Mas que frango quer morrer? Recebeu descarga elétrica na cuba e foi pra degola. Se debateu com tanta força que se desprendeu. Antes de sentir a lâmina, caiu no chão, levantou e correu.

“Foi tão rápido que parece que a descarga nem fez efeito.” Quem viu disse que não viu e quem não viu disse o contrário. Quem sabe a razão? Desapareceu com seus três quilos. “Tinha um olho diferente do outro, penugem meio amarelada. Falaram que era vestígio de sujidade no caminhão, na caixa, mas vai saber…”

Quando recebeu a descarga ficou estranho – como se tivesse morrido sem morrer. “É do tipo mesmo. Cutuquei e nada. Nada de novo. Nada mesmo.” Só quando a lâmina chegou perto que ele balançou com força e caiu – é o que contam.

“Foi assim, foi sim.” Mas e no caminhão? “Chegou normal, igual todo frango. Descarregaram, tiraram da caixa – padrão mesmo da plataforma de recepção. Acho que eram 16 lá dentro.” E o que você percebeu de diferente?

“Nada, comportamento de frango. Não gosta que pega, mas tá ali pra isso, certo? Deram aquela lavada, colocaram na nória e foi pro atordoamento. Dali um pouquinho só faca, faca pra todo mundo no túnel. Só sangrando e sangrando, mas quando chegou a vez reagiu estranho. E depois, quem sabe? Acho que ninguém sabe.”

Procuraram pela linha de abate e um pouco além. “Sem sinal nenhum, nada, nada.” Uma mulher disse ter visto um frango atravessando um descampado em frente à avícola horas depois.

Um homem relatou que viu um frango no estacionamento, mas como era perto da plataforma de recepção não estranhou. Se era o mesmo? “Acho que sim.” Acho que não.” “Talvez.”

Opiniões são guiadas pela vontade ou pela realidade? “Mas lá dentro ninguém nunca mais viu, é o que posso dizer.” “Acredito que continua lá, onde ninguém mais pode ver.” Ou tenha existido apenas na consciência de um que virou consciência coletiva.

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Jornalista e especialista em jornalismo cultural, histórico e literário (MTB: 10612/PR)

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